Divagações: Never Let Me Go

Mesmo vendo tantos pôsteres e trailers, fico feliz em perceber que ainda não sou insensível a esses materiais de divulgação. Never Let ...

Mesmo vendo tantos pôsteres e trailers, fico feliz em perceber que ainda não sou insensível a esses materiais de divulgação. Never Let Me Go, por exemplo, conquistou minha atenção com as cores leves e fluidas dos impressos, mesmo mostrando muito pouco a respeito da natureza do filme. Na maior parte das vezes, inclusive, a sinopse divulgada falava de jovens criados em um internato aprendendo a viver no mundo real, ignorando diversas outras questões relevantes, mas, ao mesmo tempo, colocando o apelo no lugar correto. Afinal, tudo seria diferente se o filme vendido fosse uma ficção científica sobre pessoas criadas exclusivamente para a doação de órgãos.

Ainda assim, o filme não deixa de ser as duas coisas. Kathy (Izzy Meikle-Small e Carey Mulligan), Ruth (Ella Purnell e Keira Knightley) e Tommy (Charlie Rowe e Andrew Garfield) são três amigos educados em um internato inglês bastante rigoroso. Lá, eles são firmemente disciplinados e criados para obedecerem sem questionamentos. Ninguém tem pai, mãe ou qualquer tipo de parentes. Ao mesmo tempo, eles sabem que são especiais. No universo em que a história se passa, a medicina evoluiu muito durante a década de 1960 e essas crianças fazem parte desse processo, pois foram desenvolvidas para serem – ainda em vida – doadores de órgãos.

Uma questão interessante a respeito de Never Let Me Go é que os protagonistas não são heróis. Eles não querem desafiar o sistema e nem ao menos tentam fugir ou lutar com unhas e dentes por suas vidas. Os três jovens são crianças grandes que obedecem aos adultos e confiam no que eles lhes dizem, mesmo tendo consciência do destino trágico e doloroso que os aguarda. A educação, dessa forma, é um dos grandes méritos do sistema, que permite às pessoas de fora acreditarem que os doadores são criaturas sem sentimentos e sem alma. Assim, cada lado permanece ignorante da realidade do outro. O problema é que, como a personagem de Carey Mulligan nos lembra, eles continuam sendo pessoas – não robôs.

Essa maneira delicada de lidar com o assunto sem querer mudar o mundo é derivada diretamente do livro em que o filme se baseou, escrito por Kazuo Ishiguro. Mesmo tendo sido criado na Inglaterra, o autor mantém traços bem característicos da literatura japonesa em sua obra, o que pode ser percebido na forma como os personagens se relacionam, como eles se expressam e como buscam resolver seus problemas.

Dessa forma, embora cada um dos três protagonistas tenha sua própria personalidade – bem desenvolvidas, aliás –, eles são introspectivos e representam uma grande oportunidade para os atores mostrarem um trabalho sério e de qualidade. Carey Mulligan já havia sido indicada ao Oscar por An Education e, aqui, mantém a qualidade de seu trabalho. Já Andrew Garfield está trilhando um caminho cheio de bons papéis e excelentes atuações, sendo uma das melhores coisas do filme. Por fim, Keira Knightley tem o papel que desperta menos simpatia, mas consegue cumprir sua missão e fugir da imagem de Elizabeth Swann.

Mesmo não sendo um filme fácil, Never Let Me Go é bom de assistir. Ele é romântico sem ser gosmento e inteligente sem ser pedante. Visualmente, o filme parece uma poesia leve, mas guarda uma carga dramática profunda nas entrelinhas.

RELACIONADOS

3 recados

  1. Ótima crítica, e adorei o filme! Os atores então, representaram perfeitamente seus papéis!
    Do livro, só li o final, mas já achei excelente!

    ResponderExcluir
  2. Curioso de mais para assistir, tenho uma cópia do DVD, mas está dublada e por isso ainda não tive coragem de assistir... Uma pena que já sei o final, a revista Preview cometeu na capa de uma de suas edições o mesmo pecado que você cometeu em seu texto, revelar uma parte importante do enredo da história...

    http://sublimeirrealidade.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  3. Esse filme é massa! Quero ler o livro pra saber se é bom, pq dizem que o filme não tme muito a ver com o livro, muita coisa ficou de fora...

    ResponderExcluir