Divagações: Curitiba Zero Grau

Talvez as pessoas de Nova York, Los Angeles, Rio de Janeiro ou São Paulo não tenham mais essa sensação, mas eu achei fantástico ver – pel...

Talvez as pessoas de Nova York, Los Angeles, Rio de Janeiro ou São Paulo não tenham mais essa sensação, mas eu achei fantástico ver – pela primeira vez – a cidade onde estudei e agora trabalho na tela do cinema. As ruas por onde passo no dia a dia, aquela esquina onde meu ônibus faz a curva, o próprio ônibus que pego ocasionalmente, o ponto turístico que há tempos não visito, a loja onde comprei tal coisa, o restaurante que tinha vontade de conhecer. De repente, percebi que prestava atenção aos figurantes, esperando ver algum conhecido.

Curitiba Zero Grau se aproveita dessa falta de visibilidade cinematográfica da cidade. Cada personagem é de um canto e todos eles trabalham nas ruas da cidade. Jaime (Edson Rocha) é o dono de uma loja de carros usados que se meteu em uma encrenca por causa de veículos roubados. Márcio (Diego Kozievitch) é o motoboy recém-separado que se envolve em uma briga de trânsito com consequências trágicas. Ramos (Jackson Antunes) é o motorista de ônibus biarticulado que resolve ajudar uma família de Santa Catarina. Por fim, Tião (Lori Santos) é o pai de família que trabalha como catador de lixo.

As histórias são independentes entre si e se cruzam apenas em breves momentos (não dizem que, no fundo, essa cidade é um ovo?). Cada um narra a história do outro, o que é um recurso interessante, mas confunde as coisas em alguns trechos. Mesmo assim, a conclusão parece ser concomitante para todos os personagens, chegando ao ápice em uma noite chuvosa seguida por uma manhã de geada.

Nessa Curitiba com roteiro de Altenir Silva e direção de Eloi Pires Ferreira, os habitantes são mais simpáticos do que diz a fama e ninguém conversa sobre o tempo (a princípio, um dos assuntos preferidos por aqui). A temperatura vai caindo aos poucos e, toda vez que alguém liga a televisão, a moça do tempo anuncia que a frente fria está chegando. Assim, a produção evita muitos dos clichês esperados sem descaracterizar a cidade.

Concluído em 2010, o filme só chegou às telas nesse ano. Isso mostra que o percurso não deve ser fácil, mas também não é impossível. Realizado em parceria com empresas e uma escola de cinema, Curitiba Zero Grau abusa das tomadas aéreas e aproveita boa parte de seu tempo para homenagear seu cenário, ganhando um ritmo mais lento em comparação com as produções de caráter mais comercial. Ainda assim, consegue contar as histórias de todos os seus personagens de uma maneira bem costurada.

O elenco, que tem em Jackson Antunes seu nome mais conhecido, consegue se sair bem na tela. Já o sotaque (que alguns curitibanos tanto negam possuir) acabou acentuado principalmente porque não parece estar no lugar certo – pelo jeito, estou mais acostumada com o chiado carioca e as puxadas paulistanas do que gostaria de admitir.

Talvez a maior vantagem de ver “a sua gente” no cinema é que as pessoas parecem mais reais. Obviamente, as tramas simples de Curitiba Zero Grau ajudam nesse sentido, pois são problemas cotidianos, que podem acontecer com qualquer um. É fácil se identificar e se descobrir na tela.

Antes que alguém diga alguma coisa, já aviso: o filme não é perfeito, tem alguns trechos arrastados, pequenas falhas técnicas (especialmente em ambientes internos) e a trilha sonora não deve agradar a todos. Mesmo assim, recomendo fortemente para todos que tiverem a oportunidade de ir assistir, Curitiba Zero Grau dá um sentimento de orgulho e de felicidade.

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2 recados

  1. Nossa, ainda tá em cartaz?
    Fiquei com vontade de ver, mas acabei não indo :(

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  2. Rapha, no momento só está em cartaz no Cineplus Xaxim. Vale a pena dar uma força para o cinema local!

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