Divagações: World War Z

Em meados de 2003, escrever sobre zumbis era mais um exercício de nostalgia dos filmes de monstros dos anos 1960 e 1970 do que uma aposta...

Em meados de 2003, escrever sobre zumbis era mais um exercício de nostalgia dos filmes de monstros dos anos 1960 e 1970 do que uma aposta no frenesi que cerca o sobrenatural, como o que temos mais recentemente. Assim, foi um bocado curioso quando Max Brooks, filho do famoso Mel Brooks, lançou um livro bem humorado sobre como sobreviver a um eminente apocalipse zumbi. 

A aposta deu tão certo que, anos depois, o autor resolveu publicar um romance que se passava justamente durante um desses eventos cataclísmicos, explorando não apenas as maneiras de se sobreviver a um acontecimento desses, mas todas as implicações políticas e sociais de um ataque de zumbis em escala global – nascia World War Z.

Até que a adaptação do romance finalmente conseguisse chegar aos cinemas, porém, houve uma boa dose de complicações com direitos autorais, roteiros reescritos e atrasos nas filmagens. Isso colocou todos os fãs do material original em estado de alerta, já que a crítica política pela qual o livro era conhecido podia facilmente se perder em meio à correria e toda a ação que se espera de um típico blockbuster de verão.

Sem muitas explicações, somos apresentados a Gerry Lane (Brad Pitt), um sujeito endurecido com um passado complicado, mas que aparentemente deixou tudo de lado para cuidar de sua esposa Karin (Mireille Enos) e de suas filhas. A tranquilidade de Lane, contudo, é colocada em xeque quando uma epidemia começa a se espalhar pelo mundo, transformando humanos em criaturas agressivas e famintas. Com o fim da sociedade como conhecemos, seu antigo conhecido e secretário da ONU Thierry Umutoni (Fana Mokoena) propõe a ele um acordo complicado, garantindo a segurança de sua família em troca de sua ajuda em uma equipe de investigação que buscará a origem da doença.

Sinceramente, tenho de dizer que esperava mais de World War Z, sobretudo pelas boas críticas que recebi a respeito do material original. Porém, o que se percebe é que o filme, ao invés de ser uma adaptação do romance, apenas pega um apanhado de ideias expostas no livro e as trabalha de sua própria maneira, para o bem ou para o mal. Para mim, sinto que tudo foi deixado de lado em prol de cenas de correria desenfreada e perseguições contra hordas de mortos vivos – o que é legal para quem gosta, mas falta aquela substância que uma obra mais intimista consegue passar, já que o livro é muito mais sobre as pessoas em meio a um apocalipse zumbi do que sobre o acontecimento em si.

A história é muito centrada no personagem de Brad Pitt, sendo a participação do resto do elenco pífia. Apesar disso, nem ele consegue ter um desenvolvimento satisfatório, já que até o final do filme não conseguimos saber exatamente qual é sua força motriz e como exatamente ele pensa. Falta ao roteiro, talvez, a mais importante característica para uma obra de sobrevivência, que é a capacidade de fazer com que o espectador crie empatia e se preocupe com o destino dos personagens, já que a tensão repousa exatamente sobre o fato de que qualquer um pode morrer.

Apesar de não decepcionar tecnicamente, falta ao filme o apelo épico que o título propõe. É claro que passamos por diversos locais do mundo, mas é tudo retratado de modo tão genérico que dificilmente você sente a escala global das coisas. Para piorar a situação, consegue-se perceber um punhado de cenas com potencial para explorar um ou outro aspecto da epidemia, mas as coisas ficam por isso mesmo, dando a impressão de que o roteiro final é uma colcha de retalhos de ideias bem intencionadas que não conseguem se encaixar de modo harmonioso.

Não digo que World War Z não tenha características positivas e, também, não posso falar que não me diverti nas quase duas horas de filme. Porém, essas qualidades ficam soterradas em meio a um desenvolvimento ineficiente que pode ter sido causado justamente pelos constantes problemas de produção. O jeito, agora, é esperar que a já anunciada continuação possa sanar as falhas mais berrantes e, talvez, consiga explorar alguns dos pontos pelos quais os livros se destacam, já que de World War Z só sobrou o nome.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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