Divagações: Anna Karenina (1948)

Quando contei para a minha avó que recentemente havia assistido a Anna Karenina , ela não deixou de comentar a beleza de Vivien Leigh . O...

Quando contei para a minha avó que recentemente havia assistido a Anna Karenina, ela não deixou de comentar a beleza de Vivien Leigh. Obviamente, expliquei que se tratava de uma nova adaptação da clássica história de Tolstói, ao que recebi o inevitável questionamento: “mas é tão bom quanto o filme do meu tempo”? Como uma apaixonada pelo drama vivido por essa mulher russa, resolvi conferir.

A história é a mesma já conhecida. Anna Karenina (Vivien Leigh) é uma jovem mulher da alta sociedade russa, casada com o influente Karenin (Ralph Richardson). Em uma visita ao irmão – que enfrentava problemas no casamento por ser infiel –, ela acaba conhecendo o futuro noivo de Kitty Shcherbatsky (Sally Ann Howes), o conde Vronsky (Kieron Moore). O rapaz se apaixona por ela imediatamente, mas esse envolvente romance pode trazer graves consequências para o futuro de Anna.

Dirigido pelo francês Julien Duvivier (que também é um dos roteiristas), Anna Karenina conta a história de uma forma bem compacta, em pouco mais de uma hora e meia (ao menos na versão que assisti, pois, aparentemente, existe outra que é um pouco mais longa). Para dar o clima correto, a aposta visual foi para os vestidos cheios de babados, os cenários com portas grandes e neve, muita neve. Em praticamente todas as cenas externas, tudo está branco e há nevascas, especialmente em momentos mais dramáticos.

A energia da história, contudo, parece mais climática que interpretada. Vivien Leigh se esforça para garantir que sua Anna Karenina seja uma mulher forte e cheia de personalidade, mas, em muitas cenas, acaba simplesmente parada e olhando para o vazio como se visse um fastama. Embora tudo tenha uma boa fluência, fica claro que a obra deve muito ao livro original e não busca por trazer algo novo ao espectador.

Além disso, personagens tão complexos quanto a protagonista – seu marido Karenin, por exemplo – acabam sofrendo ainda mais com o roteiro simplista e ficando caricatos. Todas as regras políticas e de etiqueta da sociedade em que eles viviam acaba rotulada simplesmente como hipocrisia, mas sem grandes explicações.

Outro aspecto a ser levado em consideração é a aura britânica do filme. Ninguém tenta soar russo (o que é bom em muitos aspectos) e há todo um formalismo inglês que não está presente na versão da história filmada nos Estados Unidos em 1935, estrelando Greta Garbo, Fredric March e Basil Rathbone. Talvez seja por essa razão que exista certa rivalidade entre os admiradores desta ou daquela versão (assim que possível, farei minha própria comparação!).

Anna Karenina, apesar de tudo, não pode ser considerado um filme ruim. Quem gosta de um romance deve aproveitar os movimentos de câmera delicados, a música bem marcante e todo o tempo dedicado ao envolvimento entre Anna e Vronsky, especialmente por ele parecer ser tão dedicado e intenso (ainda que não muito bonito ou charmoso). De forma alguma o filme pode ser chamado de cansativo e, se não existissem outras opções com mais a oferecer, essa possivelmente seria adorada pelos fãs – como é pela minha avó.

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