Divagações: Dawn of the Planet of the Apes
22.7.14
Rise of the Planet of the Apes foi uma das grandes surpresas de 2011. Fazendo o que parecia ser impossível, o filme conseguiu não somente colocar a franquia que há muito saíra do gosto popular de volta a ativa, como também fez com que um planeta povoado por chimpanzés inteligentes soasse plausível dentro das circunstâncias corretas. Três anos depois, Dawn of the Planet of the Apes chega aos cinemas tentando replicar o sucesso de público e crítica do seu predecessor.
Dez anos depois da revolta de Ceasar (Andy Serkis), os macacos vivem em uma comunidade fechada e isolada do resto do mundo. Longe dos humanos – que foram quase erradicados pela mesma epidemia que tornou os macacos inteligentes –, a sociedade símia floresce e de desenvolve a passos largos, porém, essa paz é colocada em risco quando o grupo de sobreviventes liderados por Malcom (Jason Clarke) depara-se com a tribo, causando desconfiança tanto de macacos como Koba (Toby Kebbel) quando de humanos como Dreyfus (Gary Oldman), que não acreditam na convivência pacífica das espécies.
Enquanto Rise of the Planet of the Apes foi elogiado por suas boas ideias e pelo desenvolvimento de personagem (na medida do possível quando o personagem principal é um chimpanzé), Dawn of the Planet of the Apes soa como uma tentativa mais segura de dar continuidade à franquia, deixando de lado parte do simbolismo em prol de uma obra mais agitada e que apela para um público maior. Isso é bem visível quanto temos mais cenas de ação, um vilão bem estabelecido e diversas tentativas de criar um conflito, elementos bem distantes do filme de 2011.
Deste modo, o foco da nova produção está menos nos personagens e em suas motivações e mais neste conflito e em suas consequências, o que acaba, de modo geral, prejudicando a trama e tornando o confronto eminente muito menos significativo. Apesar de Andy Serkis ainda ser o melhor macaco do cinema, Ceasar tem um comportamento bem mais contido e até mesmo estereotipado, não passando por um grande desenvolvimento, o mesmo ocorre com o seu filho, Blue Eyes (Nick Thurston), que, mesmo sendo relevante para o desfecho, não exibe quase nenhuma personalidade.
O lado humano não tem uma sorte muito melhor, já que a caracterização dos personagens acaba incompleta e não é possível criar uma imagem muito consistente. Nem mesmo o suposto protagonista está a salvo, não se desenvolvendo durante o filme e nem tendo uma história pregressa que justifique suas ações. Ironicamente, quem tem o melhor tratamento não são os heróis, mas personagens secundários como Koba e Dreyfus, pois eles possuem boas cenas que revelam muito mais de suas personalidades do que todo o diálogo expositivo presente no roteiro.
Visualmente, o filme é bacana, com um 3D interessante e que aparece nas horas certas. É possível ver um trabalho muito caprichado em construir o mundo pós-apocalíptico onde a civilização humana está em declínio e os macacos começam a desenvolver uma sociedade própria. Infelizmente, a falta de tempo só permite uma visão superficial do contexto, deixando de lado uma das coisas mais legais desse tipo de cenário, que é justamente compreender como as coisas aconteceram.
Dawn of the Planet of the Apes não chega a ser um filme ruim, inclusive, tem elementos muito legais que apenas não são melhores porque não foram bem explorados. As qualidades, porém, são bem diferentes das de seu antecessor, o que pode ser bastante decepcionante para quem vai aos cinemas buscado algo parecido. De todo modo, para quem quer um filme pipoca para o inverno, Dawn of the Planet of the Apes é uma boa pedida, sobretudo quando se procura uma ficção científica mais realista e que não subestime sua inteligência.
Outras divagações:
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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