Divagações: Teenage Mutant Ninja Turtles

Para quem cresceu com as aventuras de Raphael , Donatello , Michelangelo e Leonardo é complicado admitir, mas o histórico das Teenage M...

Para quem cresceu com as aventuras de Raphael, Donatello, Michelangelo e Leonardo é complicado admitir, mas o histórico das Teenage Mutant Ninja Turtles nos cinemas nunca foi lá muito bom, colecionando desde filmes medianos até completas atrocidades. Assim, não foi exatamente fácil encarar com otimismo os rumores de que Michael Bay assumira o trabalho de tentar trazer de volta (mais uma vez!) a franquia.

No entanto, Bay se contentou com o cargo de produtor, deixando a direção a cargo de Jonathan Liebesman, conhecido por filmes duramente criticados, como Wrath of the Titans e Battle: Los Angeles. Ou seja, não é preciso dizer que a escolha não deixou os fãs particularmente empolgados.

Quando a sessão começou, contudo, o estranhamento foi imediato. Centrado na jornalista April O’Neil (Megan Fox), os personagens que dão nome ao filme só vão aparecer devidamente após uns longos vinte minutos, até mesmo após a introdução do maligno Clã do Pé e do seu líder, Shredder (Tohoru Masamune), que mais uma vez pretendem dominar Nova York com um plano megalomaníaco. E, para minha surpresa, não é mesmo que as tartarugas ficaram em segundo plano?

Leonardo (Pete Ploszek/Johnny Knoxville) ainda assume o papel de líder, mas, na prática, fica extremamente apagado, só recebendo mais tempo de tela do que o intelectual do grupo, Donatello (Jeremy Howard). Raphael (Alan Ritchson) e Michelangelo (Noel Fisher) acabam ganhando um pouco de destaque, um por ser o mais ‘porradeiro’ do grupo, e o outro por seus comentários pueris que fazem valer o ‘teenage’ do título. No final das contas, qualquer desenvolvimento de personagem é deixado de lado em prol de piadas fáceis e muitas explosões.

Por mais que eu não seja o publico alvo de Teenage Mutant Ninja Turtles, admito que o filme tem algumas qualidades bem interessantes, sobretudo quando o critério é impressionar. Por exemplo, as cenas de combate são muito bem coreografadas e a ação é sempre frenética e interessante de se ver (cortesia do nosso conhecido Lula Carvalho, que assina como diretor de fotografia), evitando a famosa ‘barriga’ que transforma os filmes da série Transformers em um exercício de paciência.

Porém, o roteiro é uma bagunça desconexa onde aparentemente tudo no mundo gira ao redor do umbigo de April O’Neil – dos vilões aos heróis, todos têm sua origem de algum modo ligada a ela ou a sua família. O humor, como já disse, evita grandes escatologias (mesmo com uma dose generosa de insinuações e closes discretos nos dotes de Megan Fox), apoiando-se sobre a canastrice de Vernon Fenwick (Will Arnett) e nas bobagens de Michelangelo, não conseguindo fazer muito mais do que arrancar alguns sorrisos constrangidos do público mais velho.

De certo modo, esse é o tipo de filme que até funciona se você o enxergar como uma obra complemente despretensiosa, mesmo que isso signifique ignorar completamente a coerência, sendo um prato cheio para quem vai ao cinema apontar todos os erros e contradições dos personagens. No fim, isso acaba empobrecendo o resultado, já que se gastam milhões para criar um visual realista e interessante para os personagens, apenas para colocá-los em uma trama digna de um desenho animado dos anos 1980 – antes abraçar completamente o absurdo do que ficar nesse desconfortável meio termo, onde até mesmo o icônico “kowabunga!” é motivo de vergonha.

Com filmes muito mais divertidos e empolgantes fechando a temporada do verão americano (Guardians of the Galaxy, estou olhando para você), é difícil recomendar esta reedição de Teenage Mutant Ninja Turtles. Porém, ela não é nem de longe a grande tragédia que poderíamos pensar de início, ficando bem na linha do que poderia se considerar mediano, até valendo o ingresso para os fãs fervorosos ou para aquele seu sobrinho de 15 anos. Para quem esperava mais, o negócio é olhar para frente, já que uma continuação foi anunciada e está marcada para 2016.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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