Divagações: The Conspirator

Uma das grandes questões em exibir filmes durante uma aula de História é o fato de que aquilo que é mostrado na tela costuma ter muitas i...

Uma das grandes questões em exibir filmes durante uma aula de História é o fato de que aquilo que é mostrado na tela costuma ter muitas imprecisões. Nos Estados Unidos, existe a produtora The American Film Company, criada para apresentar filmes que representem a história do país da forma mais fiel possível. O primeiro projeto concluído foi The Conspirator, que precisa lidar coma falta de informações para a construção dos personagens (especialmente o protagonista), mas que contou com importantes documentos históricos para o desenvolvimento de seus diálogos.

A trama acompanha o julgamento de Mary Surratt (Robin Wright), acusada de ter participado da conspiração que resultou no assassinato do presidente Abraham Lincoln (Gerald Bestrom). Ela alegou inocência, afirmando ser apenas a proprietária da pensão onde o grupo – que incluía seu filho, John (Johnny Simmons) – costumava se encontrar. Para defendê-la, é chamado o inexperiente advogado Frederick Aiken (James McAvoy), que acaba encontrando muitas dificuldades frente a um júri militar e tendencioso.

Por mais que existisse o objetivo de ser fiel aos fatos, The Conspirator acaba tropeçando em alguns momentos, principalmente com relação a Aiken que, embora tenha lutado na Guerra Civil pelo norte, tinha suas simpatias pelas causas sulistas. Além disso, embora o filme utilize as transcrições do julgamento, não fica claro o quanto a falta de preparo do advogado atrapalhou sua cliente.

De qualquer modo, as intenções foram as melhores possíveis. A iluminação tenta simular as fotografias do período, com tons sépia e um pouco de cor. O efeito fica particularmente bonito nas cenas internas durante o dia, com raios de luz passando pelas janelas. É um pouco diferente do esperado, mas é uma boa surpresa e garante um aspecto único para a produção.

Para completar, o diretor Robert Redford garantiu que seus atores estivessem fantásticos. Robin Wright está perfeita ao apresentar as contradições de sua personagem e sabe ser amável e durona ao mesmo tempo. Por sua vez, James McAvoy está mais contido que o normal e boa parte de seus trejeitos foi simplesmente omitida, o que garante que seus momentos de explosão no tribunal tenham o efeito correto.

Vale acrescentar que The Conspirator foca em temáticas interessantes. O direito a defesa, especialmente, mas também a força da opinião pública e a relação do povo estadunidense com sua constituição. Historicamente, não se pode negar o valor do julgamento retratado e nem suas consequências. É um recorte bastante particular da história, mas é também muito significativo.

O resultado final não chega a caracterizar um filme pesado, mas ele tem seu grau de densidade. Não há romance nem cenas de ação, mas o problema é que também não existe uma aproximação maior com o público. Muitas das motivações são compreensíveis, mas uma espécie de respeito exagerado por aquelas figuras faz com que a identificação fique reduzida. É uma boa opção para uma aula de História (ou de Direito!), mas não chega a ser o entretenimento ideal.

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