Divagações: Seinto Seiya - Legend of Sanctuary

Seinto Seiya foi, sem dúvida alguma, um daqueles fenômenos midiáticos que só entende quem vivenciou. Exibido pela Rede Manchete em 1994,...

Seinto Seiya foi, sem dúvida alguma, um daqueles fenômenos midiáticos que só entende quem vivenciou. Exibido pela Rede Manchete em 1994, o anime era diferente de tudo que estava na televisão na época, apresentando a toda uma nova geração o jeito japonês de se contar histórias e encerrando de vez a era dos desenhos da Hanna-Barbera e companhia no Brasil. Seu sucesso foi tão grande que até hoje a franquia recebe novos jogos, quadrinhos e animações, contando com um número bastante considerável de fãs para uma série que se iniciou há mais de vinte anos.

Como todo garoto que cresceu na época, também acompanhei as aventuras de Seiya; na verdade, pode-se muito bem dizer que eu era um daqueles fãs entusiasmados que colecionava tudo que era tipo de bugiganga da série. Assim, quando descobri que Seinto Seiya: Legend of Sanctuary – o filme produzido para comemorar os 50 anos de carreira de Masami Kurumada –, chegaria aos cinemas brasileiros fiquei no mínimo curioso para dar uma olhada. Afinal, a última tentativa de capitalizar na nostalgia dos fãs de anime com Doragon bôru Z: Kami to kami saiu consideravelmente melhor do que o esperado.

Porém, Seinto Seiya: Legend of Sanctuary, não é uma continuação direta ou uma compilação. Trata-se de uma releitura do maior e mais lembrado arco narrativo da série original, mantendo alguns elementos familiares enquanto renova o visual e adapta algumas dezenas de episódios para um filme de uma hora e meia. 

Fundamentalmente, a história é a mesma. Quando a jovem Saori Kido (Ayaka Sasaki/Letícia Quinto) descobre ser encarnação da deusa Atena, sua vida é ameaçada pelo misterioso grande mestre que rege a ordem do santuário, restando aos seus cinco cavaleiros, Seiya (Kaito Ishikawa/Hermes Baroli), Shiryu (Kenji Akabane/Élcio Sodré), Hyoga (Kensho Ono/Francisco Bretas), Shun (Nobuhiko Okamoto/Ulisses Bezerra) e Ikki (Kenji Nojima/Leonardo Camilo), a responsabilidade de atravessar as doze casas do zodíaco para permitir que Saori retome seu lugar de direito.

Mas as semelhanças acabam por aí. O visual e o traço são radicalmente diferentes daquele conhecido pelos fãs e a animação tradicional é trocada pela computação gráfica (que funciona muito bem para dar escala e dinamismo aos combates), atualizando os personagens para uma nova geração e tentando se aproximar da aparência de Seinto Seiya: Omega. Não duvido que isso possa incomodar os mais puristas, mas é uma adição interessante que transparece um esforço em produzir um design de personagens que seja ao mesmo tempo diferente e familiar, sendo essa reimaginação um dos pontos altos do filme.

A história é bastante simplificada, praticamente abandonando o desenvolvimento de personagens para inserir algumas das situações icônicas vistas na série animada. Isso faz com que muitas coisas fiquem corridas ou sem explicação, só fazendo sentido se você já tem algum conhecimento de quem são aqueles personagens.

A dublagem, por sua vez, é um problema a parte, apesar do esforço louvável de trazer os dubladores originais da série, o filme tropeça no próprio texto pobre e truncado, não alcançando a breguice charmosa do original e permanecendo em um desconfortável ponto entre o constrangedor e o excessivamente pueril. Nem mesmo a memorável trilha sonora original é preservada (o que pode ser um problema da versão nacional do filme, porém, não deixa de fazer falta), sendo extremamente incômoda a falta de alguma música ou homenagem a um dos elementos chaves da série.

Assim, Seinto Seiya: Legend of Sanctuary se transforma em uma estranha quimera, que exige conhecimento da série original, mas não entrega nenhum tipo de recompensa ou trabalha com a nostalgia. Pelo contrário, o filme rompe com muitas das convenções estabelecidas e nem sempre da forma correta ou desejada pelos fãs. Apesar de ter feito um esforço genuíno para gostar da produção, só me restou a decepção com a falta de respeito ao material original, dando aquela impressão amarga que esse não é um tributo a Seinto Seiya, mas apenas uma forma de ganhar dinheiro em cima dos fãs mais empolgados.

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

RELACIONADOS

0 recados