Em Hollywood, é normal que filmes não sejam feitos. Muitas vezes, tudo acaba no roteiro, às vezes o elenco chega a ser anunciado e até algumas cenas podem ser filmadas. São projetos e mais projetos tentando ver a luz do dia, apelando de estúdio em estúdio... E nem mesmo grandes cineastas estão livres de situações como essas.

Um dos casos mais curiosos nesse sentido, contudo, é o do diretor Alejandro Jodorowsky. Praticamente uma década antes do filme de David Lynch, ele tentou adaptar o livro de Frank Herbert, Dune, para os cinemas. Jodorowsky tinha tanta esperança em seu projeto que investiu muito tempo e dinheiro na empreitada, convencendo grandes nomes de que ele seria capaz de revolucionar a ficção científica – de certa forma, prevendo o que aconteceria com o lançamento de Star Wars:Episode IV - A New Hope.

A jornada dessa produção frustrada está no documentário Jodorowsky's Dune, dirigido por Frank Pavich. Ele entrevistou boa parte dos envolvidos com o filme na época, além de alguns entusiastas, como o diretor Nicolas Winding Refn. É interessante observar a nostalgia e a esperança nos olhos de Alejandro Jodorowsky e do produtor Michel Seydoux, as pessoas que mais colocaram energia no projeto.

Há ainda o depoimento dos artistas gráficos, como H.R. Giger e Chris Foss, que participaram ativamente da criação dos conceitos. Com a ajuda deles foi desenvolvido um material incrível, composto por um storyboard completo e diversas artes, que o diretor distribuiu entre os estúdios, na esperança de impressionar algum figurão. Ao folhear um exemplar, Jodorowsky não deixa de apontar como um filme que nunca saiu do papel conseguiu influenciar tantas outras obras. As referências são mesmo impressionantes.

Junte a isso uma coleção de histórias engraçadas, um bocado de coincidências e a possibilidade de ter Salvador Dalí, Amanda Lear, Orson Welles e Mick Jagger reunidos em um mesmo filme, com direito a trilha sonora composta parcialmente por Pink Floyd. Realmente, Jodorowsky's Dune traz uma história que precisava ser contada para um público mais amplo, saindo dos círculos de Hollywood.

Tendo o próprio diretor como sua principal fonte, Frank Pavich acaba sendo um tanto quanto parcial e nos faz acreditar que, se tivesse sido realizada, a produção seria realmente fantástica. Para Alejandro Jodorowsky tudo parecia muito possível, mas é perceptível que ninguém com dinheiro para investir pensou o mesmo. Sua versão de Dune resultaria em um filme extremamente longo, com um elenco estelar e, ao mesmo tempo, amador. Além disso, trechos dos filmes anteriores de Jodorowsky mostram que ele não era muito apegado ao primor técnico, ainda que seja – até hoje – inegavelmente criativo.

Ainda assim, há quem mantenha as esperanças! Jodorowsky's Dune é, antes de tudo, um filme sobre pessoas apaixonadas pelo fazer cinematográfico e é uma delícia ver o brilho no olhar de quem quer contar uma história. Algumas vezes, o meio acaba mudando – indo para os quadrinhos, por exemplo – mas permanece a vontade de assistir a tudo na tela grande de uma sala de cinema.