Divagações: Arthur Christmas

Embora eu não lembre muito bem da época em que ainda acreditava na existência de Papai Noel, tenho algumas memórias que valorizo com cari...

Embora eu não lembre muito bem da época em que ainda acreditava na existência de Papai Noel, tenho algumas memórias que valorizo com carinho. Uma delas, é a noite estrelada em que meu pai apontou para o céu e me mostrou onde estava o trenó levado pelas renas voadoras – eu demorei um pouco para encontrar, mas juro que vi!

Arthur Christmas é um filme para quem um dia acreditou na capacidade do bom velhinho em entregar presentes para todas as crianças do mundo em uma única noite (e para quem ainda acredita também, claro). Dirigido por Sarah Smith, que assina o roteiro ao lado de Peter Baynham, o longa-metragem traz uma animação caprichada e cheia de detalhes, capaz de fazer uma homenagem a conhecida lenda e, ao mesmo tempo, modernizá-la.

Arthur (James McAvoy) é o atrapalhado filho mais novo de Santa (Jim Broadbent), que, por sua vez, está atuando em seu 70º Natal com o apoio do filho mais velho, Steve (Hugh Laurie). Enquanto os duendes – apoiados por uma nave gigantesca e uma tecnologia invejável – fazem a maior parte do trabalho, o aposentado patriarca da família (Bill Nighy) resmunga e a esposa de Santa (Imelda Staunton) cozinha. Tudo vai bem e a tradicional família segue com suas picuinhas e seus problemas varridos para baixo do tapete. A harmonia está por um fio no Polo Norte...

Até que Arthur percebe que uma criança foi esquecida! Na falta da presença do pai e do irmão, ele abandona o conforto do lar e parte para entregar um último presente ao lado de seu avô e da duende Bryony (Ashley Jensen). Sem toda a tecnologia a seu dispor, ele precisa apelar para o velho trenó, as renas e o pó mágico, extraído diretamente da aurora boreal. Mas a falta de experiência, o medo de altura e sua própria personalidade criam muitas dificuldades e garantem que a ‘missão’ seja bem mais complexa que o planejado.

Bonitinho, óbvio e absolutamente adorável, Arthur Christmas é um filme de Natal inocente. Não há piadas de duplo sentido, ninguém duvida da existência de ninguém (tirando uma menina em uma cartinha) e você simplesmente sabe que vai dar tudo certo no final.

Ao mesmo tempo, há uma inconfundível nota de tristeza na construção familiar apresentada. Perdidos em meio a tradições, os membros não se comunicam e não sabem reconhecer o potencial uns dos outros, ignoram os sonhos e as ambições daqueles que sentam ao seu lado na mesa de jantar. Quando vários pontos surgem às claras, o conflito se intensifica. Ainda assim, há temas que passam apenas raspando, como a forma como é percebida a mãe que ‘apenas’ cozinha, cuida do marido, dos filhos e do sogro e faz cursos diversos pela internet para ‘matar o tempo’. A situação do avô também não é muito diferente.

Mas não vou terminar com uma observação pessimista. Arthur Christmas é uma jornada de herói que consegue valorizar ao máximo o espírito sem deixar de trazer novidades. O filme poderia reformular algum já conhecido conto natalino, mas prefere trazer algo novo, apostando em um design de personagens criativo (os narizes são ótimos!) e no fato de que até no Polo Norte é preciso lidar com o avanço da tecnologia, o aumento populacional, os conflitos globais e por aí vai. A produção traz um frescor sincero para a temporada e é um presente para quem adora lembrar de como é bom ser criança.

RELACIONADOS

0 recados