Divagações: The Young Victoria

Com alguns trabalhos no currículo, mas ainda pouco reconhecimento, o diretor  Jean-Marc Vallée fez uma aposta certeira quando decidiu fi...

Com alguns trabalhos no currículo, mas ainda pouco reconhecimento, o diretor Jean-Marc Vallée fez uma aposta certeira quando decidiu filmar The Young Victoria. Mesmo com roteiro do inconstante Julian Fellowes, o filme conseguiu um bom elenco e se transformou em uma plataforma para seu nome – por mais que Dallas Buyers Club tenha sido lançado quatro anos depois.

Uma biografia de época rotineira, a produção tem a vantagem de se concentrar mais nas personalidades de seus protagonistas que nos comportamentos sociais. Embora não deixe as particularidades da sociedade da época de lado – estamos falando do final do século 19 –, o objetivo da produção é o romance, cercado por obrigações e jogos políticos.

Victoria (Emily Blunt) é a herdeira do trono da Inglaterra. Sua juventude é marcada por cuidados extremos por parte de sua mãe (Miranda Richardson), seguidos por diversas tentativas de manipulação, com destaque para seu antecessor, William (Jim Broadbent); o secretário de sua mãe, John Conroy (Mark Strong); seu tio Leopold (Thomas Kretschmann), que era rei da Bélgica; e o político Lord Melbourne (Paul Bettany).

Tentando desviar de tanta gente, ela acaba cedendo em alguns pontos e se casa com o pretendente escolhido por seu tio, o jovem Albert (Rupert Friend). O relacionamento entre os dois é muito bonito, mas eles precisam aprender a lidar com o excesso de responsabilidades dela em uma época onde os homens não estão exatamente acostumados a mulheres em posições de poder.

The Young Victoria consegue equilibrar muito bem as mensagens que se propõe a trazer. O filme consegue colocar a protagonista em uma posição de despreparo, mas valorizando sua inteligência, seu esforço e sua coragem, ao mesmo tempo em que a coloca em situações de incerteza e questiona sua maturidade. Como contraponto, Albert é extremamente bem preparado e tem maior jogo de cintura para lidar com situações políticas, mas cede facilmente a pressões externas.

Embora isso não faça muita diferença para o público brasileiro, o retrato do começo desse reinado é um diferencial. The Young Victoria se aproveita de poder explorar facetas diferentes da rainha, normalmente retratada como uma senhora – o que não é de se estranhar, já que ela ficou mais de 60 anos no poder. De qualquer modo, a produção é bastante fiel aos acontecimentos históricos, mas não se pode esperar por uma totalidade de acertos.

Entre as principais falhas do filme está a insistência em usar Emily Blunt para as duas fases da vida da rainha. Com 25 anos na época das filmagens, a atriz não convence como uma jovem de apenas 17. Ao mesmo tempo, trata-se de uma posição difícil, já que são poucos anos de diferença, mas uma pessoa mais nova talvez não se enquadrasse muito bem no papel de uma mulher casada e mãe. A atriz, contudo, consegue equilibrar muito bem a ousadia com as inseguranças, transmitindo inteligência e inexperiência para sua personagem.

Além disso, The Young Victoria sabe explorar seus potenciais visualmente. Os cenários e figurinos são magníficos, sendo que muitos momentos são ressaltados pela iluminação impecável e por enquadramentos dignos de, bem... quadros. Para exemplificar, destaco a sequência da coroação como uma das mais bonitas. Ela poderia passar desapercebida, já que acrescenta pouco a narrativa, mas seu impacto emocional é ressaltado com um belo trabalho de câmera.

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