Divagações: Point Break (2015)

Quando o filme original não é exatamente um clássico, mas não deixa de ser uma obra marcante para sua geração, vale a pena fazer um remake...

Quando o filme original não é exatamente um clássico, mas não deixa de ser uma obra marcante para sua geração, vale a pena fazer um remake? E quando se considera a quantidade de nomes relevantes que participaram da produção, tanto na frente quanto atrás das câmeras? E quando, na tentativa de conseguir um público mais amplo, a opção é por diminuir significativamente a classificação etária?

Aparentemente, há muita coisa errada com essa refilmagem de Point Break. Embora não seja comum refazer um filme de ação, eu entendo que esse seja significativo o suficiente sem, ao mesmo tempo, atrair a ira de um bando de fãs furiosos. Para completar, há um grande número de referências a obra original, dando a garantia de que tudo foi feito na melhor das intenções. Mas a questão continua: por quê?

A história é quase a mesma. Utah (Luke Bracey) é um agente do FBI em formação que acredita ter uma boa teoria a respeito de crimes envolvendo muito dinheiro e acrobacias perigosas. Embora sua missão seja apenas colher informações ao lado do agente Pappas (Ray Winstone), ele acaba se infiltrando no grupo de Bodhi (Édgar Ramírez) – e se envolvendo emocionalmente com os novos conhecidos, especialmente Samsara (Teresa Palmer).

A diferença é que, saem os surfistas, entram os atletas de esportes radicais. Com isso, também se perdeu todo um estilo de vida, o qual precisou ser trocado por um conjunto de desafios estabelecidos por um mestre já falecido – e tortamente venerado.

Obviamente, a troca tinha um objetivo claro: focalizar nas cenas com belas paisagens e desafios extremos. Não dá para negar os desafios técnicos superados por Point Break. O diretor Ericson Core não poupou esforços para ir aos mais belos cantos do planeta e mostrar como o homem pode se divertir ao enfrentar a natureza. No total, foram mais de 10 países em quatro continentes.

Assim, a produção tem mais um mérito ao evitar ao máximo o uso de computação gráfica. O único problema é que, quando isso precisou ser feito, foram utilizados vários recursos para ‘disfarçar’. Ou seja, ficou bastante destoante das imagens cristalinas e emocionantes filmadas em locações reais.

Outra dimensão que se perdeu nesse novo Point Break foi a amizade entre os dois protagonistas. É ela que os torna inesquecíveis no longa-metragem de 1991 (que, aliás, foi dirigido por Kathryn Bigelow). Com mudanças nas motivações de Utah, o novo roteiro apenas o afastou do público e impediu que realmente existisse algo entre ele e Bodhi.

A propósito, o texto de Kurt Wimmer peca muito em preencher qualquer espaço vazio com clichês. A personagem de Teresa Palmer se tornou apenas uma história triste e um corpo bonito, enquanto os demais parecem sempre prever a própria morte. Também vale acrescentar que, embora seja tecnicamente menos violento, o filme não hesita em fazer pessoas despencarem de grandes altitudes (o tempo todo!).

Resumindo, eu duvido que muita gente efetivamente perceba que Point Break se trata de uma refilmagem. Aqueles que gostarem de esportes radicais poderão se divertir com a desculpa de ir ver um filme para se deliciarem com as belas paisagens em uma tela gigante (há a opção do 3D, ainda que não faça muita diferença). Para quem se interessar pela trama, recomendo: o original não é um filme perfeito, mas é bem mais cativante.

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