Divagações: Captain America: Civil War

Oito anos e doze filmes depois, é difícil compreender que tipo de artimanha a Marvel e a Disney usam para continuar enchendo salas de ci...

Oito anos e doze filmes depois, é difícil compreender que tipo de artimanha a Marvel e a Disney usam para continuar enchendo salas de cinema com seu universo cinemático. Eu mesmo não levava fé que Captain America: Civil War conseguiria deixar tanta gente animada, mas após ver dezenas de salas de cinema com a lotação esgotada mesmo alguns dias após a estreia do filme admito que estava errado. Ainda que o mercado de filmes de super-heróis ande para lá de saturado, existe algo de mágico em ver um bando de gente de roupa colorida trocando tapas.

Nesse ponto, podemos dizer que Captain America: Civil War é basicamente um Avengers 2.5; e o filme não fará muito sentido se você não acompanha basicamente todo o resto do universo da Marvel. Na sequência direta de Avengers: Age of Ultron, a produção lida com as consequências dos acontecimentos em Sokovia e como isso afetou a percepção pública do grupo de heróis. Assim, surge a proposição de que a equipe assine um tratado que os colocaria sob a tutela das Nações Unidas. Discordâncias sobre o tema colocam Steve Rogers (Chris Evans) e Tony Stark (Robert Downey Jr.) em lados opostos do tabuleiro, obrigando ambas as partes a tentarem angariar a ajuda de aliados para o seu lado da briga, com o conflito sendo agravado pelo ressurgimento de Bucky Barnes (Sebastian Stan) em condições bastante suspeitas.

Antes de mais nada, entendo completamente porque os irmãos Anthony e Joe Russo foram os escolhidos para herdar a franquia The Avengers das mãos de Joss Whedon. Afinal, depois do grande sucesso de Captain America: The Winter Soldier, a dupla mostrou que consegue trabalhar uma trama mais densa sem perder a leveza característica do universo Marvel, ao mesmo tempo em que entrega um produto que pareça ‘fresco’ em meio a tantos outros filmes parecidos. A escolha se mostrou particularmente acertada nesse filme, já que ele literalmente consegue acertar em todos os alvos de um bom blockbuster, tendo sequências de ação muito boas e de bastante peso – em que finalmente vemos Black Widow (Scarlett Johansson) lutar de verdade –, um bom timing para o humor e uma trama que, apesar de tudo, é interessante e foge das maiores obviedades do gênero.

Outro grande mérito da produção – ou talvez seja melhor creditar o trabalho que a Marvel vem fazendo de modo geral –, é conseguir colocar uma dúzia de diferentes personagens no filme sem que eles percam sua própria voz ou pareçam estar lá puramente por decisões da produção. A essa altura do campeonato, já sabemos quem é cada um desses heróis, como eles pensam e como agem. O filme brilha justamente por conseguir dar o devido espaço a cada um, evitando o inchaço característico de filmes com um elenco tão grande.

Mesmo os novatos Black Panther (Chadwick Boseman) e o esperado amigão da vizinhança, Peter Parker (Tom Holland), são bem introduzidos e passam a impressão de serem o ‘tipo bom’ de fanservice, o qual é pensado e funciona no contexto geral da história. Apesar disso, lamento um pouco a ausência do ‘núcleo Netflix’ da Marvel, sobretudo pela participação importante que Daredevil (Charlie Cox) tem na saga em que o filme se baseia, mas também pelo bom trabalho que vem sendo feito com esse lado mais pé no chão do universo Marvel.

Obviamente, como um filme cujo chamariz é colocar super-heróis para brigar, Captain America: Civil War vai gerar claras comparações com Batman v Superman: Dawn of Justice, o que me soa um pouco descabido, já que são filmes bastante distintos. Porém, talvez seja justamente esse tipo de comparação que deixe claro quais são os pontos mais fracos dessa produção.

Ainda que seja um filme extremamente competente – um dos melhores da Marvel até hoje, arrisco dizer –, Captain America: Civil War sofre um pouco da fadiga que tem se formado em torno da dita ‘fórmula’ do estúdio, pois, ainda que seja divertido e empolgante, no fim do dia o excesso de exposição da marca e a certeza de certas decisões narrativas tiram um pouco do senso de surpresa e maravilhamento (com o perdão do trocadilho) que os fãs esperam dos seus filmes.

Mesmo que Batman v Superman: Dawn of Justice seja um filme tecnicamente inferior e dê algumas derrapadas que Captain America: Civil War evita com maestria, penso que saí do cinema mais empolgado no primeiro caso, justamente pela perspectiva de algo novo e inesperado no horizonte, afinal, já sei exatamente o que esperar de Avengers: Infinity War. Em iguais partes, esse universo interconectado é a força e a fraqueza da franquia. Resta saber se o estúdio vai conseguir dar esse sopro de ar fresco com seus projetos mais originais, como Doctor Strange, ou se estará se arriscando a ter de enfrentar de frente a fadiga natural do tema.

Outras divagações:
Ant-Man
Captain America: The First Avenger
Captain America: The Winter Soldier
Guardians of the Galaxy
Iron Man
Iron Man 2
Iron Man 3
The Avengers
Avengers: Age of Ultron
Thor
Thor: The Dark World

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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2 recados

  1. Vini e Rê!
    Eu estava ansioso pelo veredito de vcs!
    Assisti o filme e adorei; também o considerei um dos melhores lançados pela Marvel até o momento. Admito que eu estava com um pouco de medo depois da decepção que foi 'Vingadores: Era de Ultron' (não que seja ruim, mas a expectativa era tão alta que decepcionou), mas 'Guerra Civil' foi redondinho, a história interessante, todos os personagens foram bem aproveitados e a entrada do Pantera Negra e do Homem Aranha deixaram tudo ainda mais legal. Só fiquei um pouco chateado com o "vilão" do filme - a Marvel continua errando com os seus vilões nos filmes -, se bem que o foco era a disputa entre os times, né? Só sei que o filme me deixou muito animado em relação ao futuro do Universo Cinematográfico da Marvel, cada vez mais ansioso por 'Pantera Negra', Homem Aranha', 'Homem Formiga 2', Guardiões das Galáxias 2' e 'Dr. Estranho'. Pfvr, chega logo, haha!

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    1. Rapha: Eu sempre reclamo que a Marvel está se rendendo a sua própria fórmula, mas eles sempre saem o suficiente da linha para me fazer querer ver mais! (e mais)
      Mas não reclame dos vilões! Loki <3

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