Divagações: Money Monster

Com o risco de me tornar datado, percebo que cada vez mais existe um certo cinismo da população estadunidense em relação aos mandos e desm...

Com o risco de me tornar datado, percebo que cada vez mais existe um certo cinismo da população estadunidense em relação aos mandos e desmandos do mercado financeiro. Inicialmente concentrado no movimento Occupy Wall Street (Ocupe Wall Street), esse descontentamento vem se tornando central na pauta política das eleições presidenciais americanas e arrisca ser até mesmo o ponto definidor das mesmas em um futuro próximo.

Não é a toa que não faltam discussões sociais e intelectuais a respeito do tema e seu alcance se tornou grande o suficiente para que ele apareça com relativa frequência em Hollywood. Mesmo com The Wolf of Wall Street, em 2013, e The Big Short no ano passado não falta um quinhão para Money Monster explorar, ainda que de modo mais brando. Digo isso porque, ao contrário de The Big Short, essa é uma história inteiramente ficcional e, querendo ou não, certas liberdades poéticas acabam tirando o impacto de quão complicada a situação verdadeira poderia ser, substituindo a indignação das falcatruas da vida real por um mero simulacro.

Lee Gates (George Clooney) é o apresentador de um programa sobre finanças que se vê em uma situação especialmente tensa quando Kyle Budwell (Jack O'Connell), um investidor frustrado e falido, resolve invadir o estúdio durante uma transmissão e colocar a equipe de filmagem como refém. Kyle, apesar de mentalmente instável, busca a verdade por trás da quebra sem precedentes da empresa em que investiu todo o seu dinheiro, fruto de um suposto erro no algoritmo de compra de ações. Com a vida de Lee em perigo imediato, sobra para sua produtora, Patty Fenn (Julia Roberts), tentar apaziguar a fúria do sequestrador e buscar a verdade por trás dos fatos na frente de milhões de espectadores.

Como thriller, Money Monster é decididamente competente. O ritmo é bom, o filme não se alonga demais e existe espaço o suficiente para criar uma tensão duradoura. O filme consegue explicar o que deve sem ser excessivamente expositivo e o pequeno mistério que impulsiona a trama faz até sentido dentro do contexto geral. Apesar da fórmula do grande investidor ganancioso de Wall Street já estar meio cansada, a produção evita se estender demais neste ponto e se foca mais na relação entre Lee e Kyle do que em uma trama de maior impacto.

Falando nisso, as atuações também são boas, mas não são excepcionais. Julia Roberts às vezes é tão comedida que acaba meio apagada e George Clooney abusa um pouco do papel de “cara charmoso que começa sendo meio babaca mais se redime no final”. O excesso de coadjuvantes não chega a atrapalhar, mas acho que seria possível deixar a história mais enxuta, não envolvendo tanta gente em um tipo de história que talvez funcionasse mais se apostasse no intimismo.

Ainda que tente ser uma crítica ao sistema financeiro, o filme não consegue exatamente colocar o dedo na ferida. Você sente que Kyle tem muito a dizer, mas não há espaço para uma articulação convincente de seus motivos. Quando aparece uma oportunidade, ao invés desse se tornar um ponto catártico, o filme apenas passa a soar um pouco panfletário. O último ato é o que mais sofre desse mal, a ponto de que sua resolução não faz muito para resolver o problema e só reforça o caráter um pouco questionável da obra.

No geral, entendo a motivação da diretora Jodie Foster em fazer um filme com essa pauta e acho que de certo modo ela foi bem sucedida em entregar algo que soasse engajado e interessante simultaneamente. Infelizmente, talvez Money Monster careça de um pouco de polimento ou de um argumento mais forte, de modo que mesmo sendo um filme legal, não passa muito disso, faltando algo que o faça se destacar da grande massa e entregar uma mensagem forte no processo.

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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