Divagações: Assassin's Creed

Com direção de Justin Kurzel , um elenco poderoso, um visual interessante e uma premissa curiosa, eu acreditava que Assassin's Creed ...

Com direção de Justin Kurzel, um elenco poderoso, um visual interessante e uma premissa curiosa, eu acreditava que Assassin's Creed poderia entrar na seleta lista de “filmes baseados em jogos que deram certo”. Mas acho que ainda falta algo para que o gênero decole da maneira merecida.

Vou me alongar um pouco sobre o tema. Uma produção como Warcraft, por exemplo, é direcionada para os fãs e pode se dizer bem-sucedida por não ter desagradado àqueles que já conheciam o universo, ainda que também não tenha conseguido ir muito além de suas (já relativamente amplas) fronteiras originais. Outras obras, como Prince of Persia: The Sands of Time, tentam se transformar em grandes filmes-pipoca, mas acabam irritando os jogadores ao mesmo tempo em que deixam de conquistar um novo público.

A verdade é que o mercado de videogames não precisa do cinema para se promover. Mas seria bom se os filmes conseguissem se aproveitar de histórias criativas e já consagradas, devidamente testadas com um grande número de pessoas e capazes de prender a atenção por várias horas. Há uma mina de ouro a ser explorada!

Assassin's Creed tinha potencial para se desenvolver como um bom filme de ação, trazendo todos os elementos necessários para os fãs comparecerem aos cinemas, mas sem incomodar quem nunca se deu ao trabalho de pegar o joystick. Mas alguma coisa insiste em dar errado nessa transposição dos games para o cinema.

Cal Lynch (Michael Fassbender) é um criminoso condenado à morte que, para sua própria surpresa, simplesmente acorda após a execução. A responsável por tê-lo salvado é a cientista Sofia Rikkin (Marion Cotillard), que pretende utilizar as memórias genéticas dele em um experimento pelo fim das tendências violentas na humanidade. Com o apoio de um implante na espinha, ela o faz reviver acontecimentos da inquisição espanhola, quando Templários e Assassinos (que são membros de um “credo”, o que justifica o título) brigavam por seus ideais e pela posse de objetos lendários. Inclusive, um desses itens é o Pomo de Ouro a Maçã do Éden, que está desaparecida desde então e pode ser a chave para os estudos de Sofia.

A questão mais interessante é que há uma grande zona cinzenta sobre todos os personagens. A princípio, a cientista parece bem-intencionada, mas sua pesquisa possui métodos questionáveis e toda a estrutura que a rodeia é bastante suspeita. O protagonista é um criminoso condenado que simplesmente não sabe o que está fazendo e nunca expõe muito de sua real personalidade. Os coadjuvantes possuem pouco espaço para mostrar a que vieram e também não demonstram claramente suas intenções, preferindo lançar misteriosos olhares enviesados, eventualmente acompanhados por fragmentos de diálogos.

Tudo isso poderia gerar curiosidade e, consequentemente, um grande filme baseado em suspense e tensão. Entretanto, Assassin's Creed acaba se perdendo em meio a uma história rocambolesca e uma completa falta de foco. Os elementos são bastantes simples e o filme não perde tempo em tentar explicar uma ciência que efetivamente não faz sentido – o que até poderia funcionar. O problema é que a produção não se preocupa em gerar qualquer tipo de empatia com os personagens. Desconfiamos de todos e pouco importa quem será o próximo a morrer (o que é bem triste quando se considera que esse elenco inclui nomes como Jeremy Irons, Brendan Gleeson, Charlotte Rampling e Michael Kenneth William). Também não dá para saber quem está falando a verdade e, em determinado momento, a solução mais plausível é de que tudo não passe de um delírio.

Por mais que o filme seja bastante competente visualmente, não há efeito visual, cenário ou figurino que salve a completa falta de imersão do público em uma história que não provoca qualquer tipo de sentimento. Em uma espécie de batalha ideológica entre Templários e Assassinos, fica difícil assumir uma posição e torcer por qualquer um dos lados. Como filme, Assassin's Creed morre sem nem ao menos mostrar a que veio.

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