Divagações: O Filme da Minha Vida
17.8.17
Alguns filmes são criados não exatamente com a intenção de contar histórias, mas para transmitir sentimentos. O Filme da Minha Vida é um desses casos. Tanto é que a produção nem esconde sua preferência pelo ‘meio’. Não pelo início, quando a história é apresentada, e nem pelo fim, onde descobrimos o final feliz. Aqui, a ideia é aproveitar o meio, mesmo.
Dessa forma, a história é, na verdade, a jornada emocional de Tony (Johnny Massaro). Em 1963, ele é um rapaz que foi fazer faculdade ‘na capital’ e está voltando para casa. Contudo, assim que chega na cidadezinha onde nasceu, seu pai (Vincent Cassel) embarca no mesmo trem e vai embora. Sem receber qualquer tipo de explicação, Tony espera ingenuamente por cartas vindas da França – terra natal de seu pai – e mergulha em uma profusão de lembranças. Ele se sente injustiçado e abandonado, por vezes ignorando os sentimentos de outras pessoas próximas, como sua própria mãe (Ondina Clais).
Mas a vida, obviamente, não é apenas martírio. Ele é um moço quieto e observador, que falha em se conectar com seus alunos (ele ensina francês, reforçando o vínculo paterno) e que não parece ter um amigo próximo, convivendo com um camarada de seu pai, Paco (Selton Mello), que parece ter tomado para si o papel de ‘protetor’ da família. Ao mesmo tempo, Tony tem seu olhar iluminado pelos filmes exibidos no cinema da cidade vizinha e também está em busca de um amor. Suas atenções facilmente recaem sobre duas irmãs: uma é a misteriosa e bonitona Petra (Bia Arantes), a outra é a sonhadora Luna (Bruna Linzmeyer), que parece mais propensa a retornar seu afeto.
O passar dos dias e a forma como o protagonista lida com seus sentimentos e frustrações é acompanhado por uma bela e nostálgica paisagem sulista, fotografada por Walter Carvalho. Muitos dos quadros se assemelham a pinturas (daquelas que você talvez tenha visto na casa da sua avó) e evidenciam o aspecto nostálgico de O Filme da Minha Vida. Isso combina muito bem com boa parte do público em potencial da produção – sim, pessoas que lembram com carinho daqueles dias – e também com o próprio Tony, que está preso a suas memórias de infância.
Apesar da beleza estética, o longa-metragem tem dificuldades em se segurar justamente por se apoiar demais em um personagem que é muito reflexivo. O roteiro – assinado por Marcelo Vindicato e pelo diretor Selton Mello – é repleto de frases soltas e levemente poéticas, pequenas anedotas e momentos que não ficam muito bem explicados. Combina bem com o caráter nostálgico da produção, mas também dá a sensação de que o filme é mais longo que sua duração de 1h50min.
Ainda assim, O Filme da Minha Vida consegue se salvar em grande parte pela presença de Johnny Massaro, que corre o risco de fazer caras e bocas demais, mas consegue entregar charme e expressividade em sua atuação. Todo o resto do elenco existe apenas para apoiá-lo e a escolha do ator se mostrou essencial para manter o filme na linha correta.
É claro que essa não é uma opção para quem está indo ao cinema se divertir e comer bastante pipoca com os amigos. Por sua própria natureza, O Filme da Minha Vida não é daqueles que atrai multidões e consegue a adoração de fãs acalorados. Mas essa é uma bela oportunidade de ver um drama ‘fora de época’. Em meio a tantos blockbusters de verão vindos de Hollywood, temos uma opção nacional vestida para o inverno e que traz um drama simultaneamente comum e tocante. Afinal, quantas famílias já não viram o pai abandonar o lar e precisaram lidar com isso? Esse é mais um caso desses, mas contado com muito mais habilidade do que nas dramatizações feitas pelos programas de televisão aos domingos.
Outras divagações:
O Palhaço
Dessa forma, a história é, na verdade, a jornada emocional de Tony (Johnny Massaro). Em 1963, ele é um rapaz que foi fazer faculdade ‘na capital’ e está voltando para casa. Contudo, assim que chega na cidadezinha onde nasceu, seu pai (Vincent Cassel) embarca no mesmo trem e vai embora. Sem receber qualquer tipo de explicação, Tony espera ingenuamente por cartas vindas da França – terra natal de seu pai – e mergulha em uma profusão de lembranças. Ele se sente injustiçado e abandonado, por vezes ignorando os sentimentos de outras pessoas próximas, como sua própria mãe (Ondina Clais).
Mas a vida, obviamente, não é apenas martírio. Ele é um moço quieto e observador, que falha em se conectar com seus alunos (ele ensina francês, reforçando o vínculo paterno) e que não parece ter um amigo próximo, convivendo com um camarada de seu pai, Paco (Selton Mello), que parece ter tomado para si o papel de ‘protetor’ da família. Ao mesmo tempo, Tony tem seu olhar iluminado pelos filmes exibidos no cinema da cidade vizinha e também está em busca de um amor. Suas atenções facilmente recaem sobre duas irmãs: uma é a misteriosa e bonitona Petra (Bia Arantes), a outra é a sonhadora Luna (Bruna Linzmeyer), que parece mais propensa a retornar seu afeto.
O passar dos dias e a forma como o protagonista lida com seus sentimentos e frustrações é acompanhado por uma bela e nostálgica paisagem sulista, fotografada por Walter Carvalho. Muitos dos quadros se assemelham a pinturas (daquelas que você talvez tenha visto na casa da sua avó) e evidenciam o aspecto nostálgico de O Filme da Minha Vida. Isso combina muito bem com boa parte do público em potencial da produção – sim, pessoas que lembram com carinho daqueles dias – e também com o próprio Tony, que está preso a suas memórias de infância.
Apesar da beleza estética, o longa-metragem tem dificuldades em se segurar justamente por se apoiar demais em um personagem que é muito reflexivo. O roteiro – assinado por Marcelo Vindicato e pelo diretor Selton Mello – é repleto de frases soltas e levemente poéticas, pequenas anedotas e momentos que não ficam muito bem explicados. Combina bem com o caráter nostálgico da produção, mas também dá a sensação de que o filme é mais longo que sua duração de 1h50min.
Ainda assim, O Filme da Minha Vida consegue se salvar em grande parte pela presença de Johnny Massaro, que corre o risco de fazer caras e bocas demais, mas consegue entregar charme e expressividade em sua atuação. Todo o resto do elenco existe apenas para apoiá-lo e a escolha do ator se mostrou essencial para manter o filme na linha correta.
É claro que essa não é uma opção para quem está indo ao cinema se divertir e comer bastante pipoca com os amigos. Por sua própria natureza, O Filme da Minha Vida não é daqueles que atrai multidões e consegue a adoração de fãs acalorados. Mas essa é uma bela oportunidade de ver um drama ‘fora de época’. Em meio a tantos blockbusters de verão vindos de Hollywood, temos uma opção nacional vestida para o inverno e que traz um drama simultaneamente comum e tocante. Afinal, quantas famílias já não viram o pai abandonar o lar e precisaram lidar com isso? Esse é mais um caso desses, mas contado com muito mais habilidade do que nas dramatizações feitas pelos programas de televisão aos domingos.
Outras divagações:
O Palhaço
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