Divagações: Romeo & Juliet

A clássica história de amor e proibido. Será que as pessoas nunca vão se cansar dela? Eu, pelo menos, não acredito que vou. A peça de Wi...

A clássica história de amor e proibido. Será que as pessoas nunca vão se cansar dela? Eu, pelo menos, não acredito que vou.

A peça de William Shakespeare já recebeu inúmeras adaptações – seja no teatro, na televisão ou no cinema. Nenhuma ideia parece nova. O período em que a história ocorre foi mudado, as nacionalidades dos protagonistas foram alteradas, os gêneros foram trocados, os personagens viraram animais, o texto foi cortado, alongado e/ou modernizado e, em uma das versões mais queridas (Romeo + Juliet), os diálogos originais permaneceram os mesmos ainda que em uma caracterização mais moderna.

Romeo & Juliet surpreende nesse contexto justamente por colocar seus personagens em uma charmosa Itália renascentista, o mesmo cenário inicialmente pensado pelo autor. Ao mesmo tempo, a principal crítica feita ao filme na época de lançamento se deve ao texto, que foi adaptado e perdeu muitos de seus floreados. Ainda assim, a ideia do filme era contar a história de maneira bem próxima à original – ou seja, se você não tem particular apelo pela linguagem, esse detalhe fará pouca diferença.

Nessa versão, conhecemos uma Verona onde o ódio entre duas famílias – mais especificamente os Capulet e os Montague – fez com que o príncipe (Stellan Skarsgård) criasse leis proibindo brigas nas ruas e afirmando que assassinatos seriam punidos com a morte. Levemente alheia a isso, Juliet Capulet (Hailee Steinfeld) é uma moça rica que está sempre acompanhada por sua ama (Lesley Manville) e que, em breve, deve conhecer o homem escolhido por seu pai (Damian Lewis) para ser seu futuro marido (Tom Wisdom). Por sua vez, Romeo Montague (Douglas Booth) é um rapaz com tendências artísticas e um coração sempre apaixonado, que pede conselhos para um frade (Paul Giamatti) e vive na companhia de seus primos (Kodi Smit-McPhee e Christian Cooke). Quando Juliet e Romeo se encontram, os dois se apaixonam imediatamente. Entretanto, o ódio entre as duas famílias e as expectativas sobre ambos – que são os únicos herdeiros de seus pais – fazem com que o relacionamento encontre muitas dificuldades.

A história de Romeo & Juliet, já bastante conhecida, é contada com habilidade suficiente para gerar a tensão necessária. Quem, como eu, tem coração mole e sempre mantém um fio de esperança ficará na tradicional expectativa pelo final. Afinal, você sabe que se trata de uma tragédia, mas sempre existe a possibilidade do desfecho ser alterado. Vale acrescentar que o filme tem roteiro de Julian Fellowes, que costuma acertar a mão em obras de época, ainda que tenha uma carreira com alguns tropeços bastante significativos.

Outro aspecto que fez diferença é a direção de Carlo Carlei, que fez questão de situar a produção em seu país natal. Além do figurino de época repleto de detalhes, os cenários escolhidos são absolutamente maravilhosos e é impossível não ficar admirando as belas casas dos protagonistas – com destaque para a residência dos Capulet, repleta de afrescos, plantas e detalhes arquitetônicos exuberantes.

Dito isso, a trilha sonora de Abel Korzeniowski também contribui para o clima de Romeo & Juliet, reforçando a dramaticidade e dando mais credibilidade para esse desesperado amor juvenil. Em contrapartida, sinto que a fotografia de David Tattersall foi convencional demais, não aproveitando o claro potencial do filme de maravilhar visualmente os espectadores.

Aliás, deixo bem claro que essa é uma produção mais plástica que profunda, apoiando-se fortemente na aparência dos atores, dos locais e das roupas. Como um filme feito para deslumbrar, ele quase funciona, mas sendo exatamente digno de grandes méritos. Com isso, quero dizer que a produção sabe usar muito bem aquilo que é estabelecido, trazendo à tona um bom trabalho de pesquisa e um claro empenho em detalhes. Ao mesmo tempo, faltou ir além desse apego e trazer algo realmente novo para uma trama que já foi tantas vezes contada e recontada.

Romeo & Juliet deveria ser tão bonito quanto uma pintura italiana do século 16, mas ele é apenas mais um filme dos dias de hoje. Em meio a tantas outras adaptações, seu destino talvez seja o esquecimento.

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