Divagações: Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro

Demorou, mas eu fui assistir a Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro ! Agora, as pessoas já podem voltar a conversar na minha frente! ...

Demorou, mas eu fui assistir a Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro! Agora, as pessoas já podem voltar a conversar na minha frente!

Em 2007, quando Tropa de Elite chegou aos cinemas, o fuzuê foi quase o mesmo (mas eu fui ver na estreia, demonstrando um pouco mais de esperteza). As pessoas achavam que tinham visto um retrato real das favelas e do Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro, o Bope. O Capitão Nascimento (Wagner Moura) era um herói dedicado à causa e seu exemplo deveria ser seguido por todos. A violência era muita, mas “bandido bom é bandido morto”. Muitos acreditavam que o Capitão Nascimento era a solução para o país.

O novo filme aproveita essa deixa e coloca o personagem de Wagner Moura no comando. Agora um coronel, Nascimento continua no Bope até que, durante uma rebelião no presídio Bangu 1, seu amigo e colega André Matias (André Ramiro) comete um erro que coloca em perigo o militante pelos direitos humanos Fraga (Irandhir Santos). A princípio, a repercussão do ocorrido é péssima, mas a população do Rio de Janeiro parece contente com a morte de mais um líder do tráfico de drogas. Com isso, André Matias é rebaixado e Nascimento assume um cargo no governo, onde se torna chefe da inteligência.

As consequências de um líder como esse para a polícia, o tráfico, o amigo humilhado e a família do personagem são o motivo do filme existir. É uma resposta inteligente, crítica e violenta para aqueles que levavam as máximas do primeiro filme como um exemplo a ser seguido.

Tropa de Elite 2 é um filme completamente novo e diferente do anterior (o que pode ser algo ótimo ou desastroso para uma continuação, dependendo da execução). Sem frases marcantes, sem tanto tiroteio na favela, mas com personagens mais interessantes (embora o Fraga de Irandhir Santos seja chato de tão certinho). A qualidade técnica continua alta e fazendo barulho suficiente para deixar todo mundo no cinema com dor de cabeça – só não pode reclamar, afinal, tiroteio baixinho não vale.

Nascimento está mais maduro e mais consciente da dimensão dos problemas. Bráulio Mantovani, José Padilha e Daniel Rezende realmente se superaram na hora de contar essa história passada em um Rio de Janeiro do presente, mas ficcional. A propósito, a diferença entre realidade e ficção é algo bastante delicado nesse trabalho onde as referências a políticos são constantes. Embora dê para ficar pensando quem baseou cada personagem, os coadjuvantes são um tanto quanto planos demais para serem pessoas reais, o que de maneira alguma chega a prejudicar o filme. Aliás, apenas ajuda.

Sem pedantismos, Tropa de Elite 2 é mais um soco no estômago. Mesmo que o inimigo agora seja outro, o espírito revoltado e violento permanece o mesmo. O Bope pode não estar mais no centro da história, mas é seu melhor capitão quem assume para segurar nas mãos a opinião dos idealizadores da obra. Dessa vez mais clara (e mais classe média?), mas ainda assim bastante cruel.

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