Divagações: Frost/Nixon

Os estadunidenses são umas pessoinhas estranhas, vocês não acham? Tudo bem que uma entrevista pode se tornar algo muito marcante e fazer his...

Os estadunidenses são umas pessoinhas estranhas, vocês não acham? Tudo bem que uma entrevista pode se tornar algo muito marcante e fazer história. Isso é perfeitamente compreensível. Agora, transformar uma entrevista política em uma peça de teatro e, posteriormente, em um filme parece um pouco demais. Além de se tratar de uma temática complexa, uma entrevista parece ser um assunto um pouco monótono para prender a atenção de alguém por praticamente duas horas. Mas sabe o que é o mais estranho disso tudo? O resultado final é realmente bom.

Em 1977, o apresentador britânico (vejam só!) David Frost (Michael Sheen) decide que pode fazer dinheiro entrevistando o único presidente a denunciar na história dos Estados Unidos: Richard Nixon (Frank Langella). A ferida do país ainda estava aberta por causa dos escândalos de Watergate, mas o ex-presidente havia recebido um indulto de seu sucessor e nunca iria a julgamento. Devido à inexperiência do desafiante (acreditem, parece uma disputa), Nixon acredita que poderá limpar um pouco sua imagem política. Já Frost, mais conhecido por programas de variedade, arrisca tudo o que possui em busca de dinheiro e reconhecimento em um país que adora.

Claro que as saídas encontradas para contar essa história em Frost/Nixon não são muito difíceis de imaginar. Um pouco de material de arquivo retratando a época, uma boa dose de estética documental com os atores falando para a câmera e um roteiro que favorece os bastidores da pesquisa, especialmente a pesquisa de Frost. A propósito, Peter Morgan é o autor da peça e do roteiro do filme e merece muito do crédito de seu sucesso.

Além dele, o elenco do filme também merece parabéns. Frank Langella está ótimo como o ex-presidente, em todas as suas nuances. É um personagem muito complexo e só um mestre poderia alcançar esse nível de credibilidade. Já Michael Sheen se mostra um adversário a altura. O filme é dos dois. Por mais que haja outros nomes relevantes no elenco, não dá para negar que todos dão espaço para essa dupla mostrar o que é atuar.

O filme, no entanto, não é uma obra fácil. O espectador precisa se preparar para assistir. É necessário ter pelo menos uma noção sobre do que se tratou o caso Watergate. Também não dá para se distrair com as crianças brincando ou com o bichinho de estimação e muito menos dar uma piscada muito longa. É preciso estar atento para todos os detalhes e suas implicações. Cada movimento dos dois adversários faz diferença e pode implicar em um resultado diferente. É como assistir a uma luta de boxe mental onde a vitória não será decidida por nocaute, mas na contagem de pontos de cada round.

Frost/Nixon não é um filme de entretenimento fácil, mas não se assuste, pois também não é extremamente difícil (continua sendo um filme feito para um público amplo). Eu diria que é o filme perfeito para quando você está se sentindo culpado porque faz tempo que não lê um bom livro ou para quando procura algo totalmente diferente dos blockbusters, mas também não quer que tentem fazer você chorar.

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