Divagações: Charlie St. Cloud
18.1.11Vocês achavam que eu estava brincando quando falei que filmes com pessoas mortas estavam na moda? Uma semana depois de encarar o decepcionante Hereafter, chega as telas de cinema o drama adolescente Charlie St. Cloud. Bem, não podemos nem ao menos dizer que é um lançamento proposital. Afinal, Charlie St. Cloud chegou ao Brasil oito meses depois de seu lançamento internacional e sou tentado a falar que foi apenas devido ao grande apelo que Zac Efron ainda mantém sobre as adolescentes daqui.
E falando nele, posso afirmar que pessoalmente, não abomino o trabalho de Zac Efron ou algo do gênero. Afinal, acho que é um tipo de patologia persistente da crítica especializada achincalhar o trabalho de qualquer ídolo pop que tenta fazer trabalhos um pouco mais sérios (não que geralmente funcione: Scott Baio e Luke Perry, eu estou olhando para vocês!). Infelizmente para Efron, que estava sendo levado um pouco mais a sério depois de Me and Orson Welles, Charlie St. Cloud é, no mínimo, um grande tropeço.
A trama gira em torno do personagem título, Charlie St. Cloud (Zac Efron), um jovem talentoso, com um rostinho bonito e cheio de potencial para se tornar um grande atleta, basicamente o personagem perfeito para levar as moçoilas aos suspiros. Porém, sua trajetória de sucesso é bruscamente interrompida pela morte do seu irmão mais novo, Sam (Charlie Tahan), com quem mantinha uma relação muito próxima. O acidente que mata Sam por pouco não vitima também Charlie que, após uma experiência de quase morte, passa a ver os espíritos que ainda estão presos a terra, como é o caso do seu próprio irmão. Tomado pela culpa e obcecado por uma promessa feita para Sam, Charlie joga fora toda a sua vida para manter estas lembranças intactas, isto é, até o aparecimento de Tess (Amanda Crew), uma velejadora que faz Charlie lembrar-se de tudo que abriu mão.
Este é o tipo de trama com um potencial emotivo muito profundo, porém isso foi mal aproveitado pela direção. As atuações parecem ser muito rasas e Efron, sobretudo, não convence como um ator sério. Toda a culpa e isolamento do personagem se perdem em meio a um melodrama por vezes exagerado e a uma certa apatia de Charlie que não parece nem ao menos estar genuinamente infeliz por levar a vida que leva. O desenlace da história também deixa a desejar, pois ao invés de uma grande carga emocional, como poderíamos esperar de um filme desse gênero, nos deparamos com uma solução mágica e absolutamente inconsistente para todos os problemas.
No entanto, não posso dizer que não há o que se aproveitar do filme. A fotografia é ótima, com paisagens lindíssimas e uma ambientação que consegue transformar até mesmo um cemitério, onde se passa boa parte do filme, em um lugar aprazível (palmas para o equatoriano Enrique Chediak, pasmem, também diretor de fotografia do nacional Besouro). O próprio enredo reserva algumas surpresas e situações agradáveis, o que de algum modo enxugam um pouco das críticas negativas que poderíamos ter em relação ao filme. De algum jeito, você sai da sala sem pensar que tudo foi um completo desperdício de tempo, mas longe de estar satisfeito por estar ali. É o que com certeza poderíamos chamar de um filme insosso, assim, para quem esperava algo terrivelmente pueril, Charlie St. Cloud, surpreende positivamente ao ser apenas regular.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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