Divagações: Bruna Surfistinha

Fazer cinema no Brasil é um problema. Qualquer história vai ser automaticamente rotulada como “dramalhão de novela”, “comédia abobalhada”, “...

Fazer cinema no Brasil é um problema. Qualquer história vai ser automaticamente rotulada como “dramalhão de novela”, “comédia abobalhada”, “absurdo sem sentido”, “tentativa cult” ou “mera pornografia”. Mesmo não sendo nada disso. Mesmo que uma parcela significativa de todos os filmes do mundo possa, de alguma forma se enquadrar nisso. Com Bruna Surfistinha, o rótulo já vinha pegando pesado desde o livro O Doce Veneno do Escorpião, de Raquel Pacheco. Quando o filme foi anunciado, a sociedade dos bons costumes o condenou sem nem dar muitas chances – embora, no fundo, todos estivessem com uma imensa curiosidade de ir assistir.

Com um grande apelo popular, uma vez que a história real ainda estava fresca na memória e a temática por si só é bastante chamativa, Bruna Surfistinha foi avançando. O filme conseguiu financiamento e um elenco de atores televisivos conhecidos do público, o que sempre dá uma ajuda na hora da bilheteria. Além disso, Deborah Secco parecia perfeita para o papel principal.

A história, caso alguém não saiba, conta um pouco sobre a vida de Raquel Pacheco, que assumiu o nome Bruna ao entrar para a prostituição. Ao contrário de suas colegas, ela não vinha de uma origem pobre. Pelo contrário, sua família tinha bastante dinheiro. Ela, no entanto, se sentia oprimida e, assim, vender o corpo foi a solução que encontrou para conseguir sua independência. Um caminho que, aliás, possibilitava a saída da escola, um ambiente que ela considerava desagradável e no qual tinha dificuldades para se adaptar. Com o tempo, Bruna percebeu que tinha talento para a profissão que escolheu, entrou em contato com as pessoas certas e foi melhorando de vida. Ela, então, investiu em um site e acabou ficando famosa ao expor seu estilo de vida e falar de seus clientes. O detalhe é que a fama pode ser boa, mas traz alguns problemas.

Na verdade, essa é mais uma versão do ditado “o que vem fácil, vai fácil”. Não que a vida dela fosse tranquila, mas não há dúvidas de que Bruna sempre buscou a solução que mais se adequasse ao perfil dela, adaptando-se somente quando era de seu interesse pessoal. Quando ela não queria, partia para outra e seguia em frente. Sinceramente, não é para qualquer um aguentar as consequências de uma vida assim e acho que apenas nesse ponto ela tem algum mérito. Faça suas escolhas e viva com elas, é a moral da história.

O problema é que esse tipo de personagem nunca vai entrar em sintonia perfeita com o público. É impossível gostar de Bruna Surfistinha ao ver o filme. Ela é egoísta e vazia. Aliás, o vazio é tão grande que o filme é preenchido com as cenas fáceis de sexo que, estranhamente, apelam mais para o quanto o ser humano é estranho que para a própria sensualidade. A única coisa interessante que você pode ver nesse filme é a própria Deborah Secco, mas, se é isso o que você quer, garanto que há meios mais fáceis.

Enfim, o filme é ruim? Sim, mas não porque conta a história de uma prostituta. É um conjunto de fatores onde a busca pelo caminho fácil fica tão evidente que tudo perde a graça. O livro foi escolhido pelo apelo. O elenco foi selecionado para atrair as massas. O sexo é sem sal. Sinceramente, não há nada de inovador ou curioso ou picante em Bruna Surfistinha. Eu até tentei dar uma chance para o filme, mas não rolou. Não gosto de cinema vazio.

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