Divagações: The King’s Speech

Aviso: Esse texto foi escrito antes do 83º Oscar. Dessa maneira, não serão feitas referências aos prêmios que ele por ventura possa ter gan...

Aviso: Esse texto foi escrito antes do 83º Oscar. Dessa maneira, não serão feitas referências aos prêmios que ele por ventura possa ter ganhado.

The King’s Speech é um filme sobre reis e rainhas, é um filme de época, é um filme sobre um momento histórico importante. Ao mesmo tempo, se você for pensar bem, ele não está tão distante assim de nós. Temporalmente, pelo menos. O rei, aqui, já não tem mais tantos poderes e a filha dele é a atual rainha. Além disso, embora o número diminua a cada dia, ainda existem muitas pessoas que lembram bem da II Guerra Mundial.

A história contada em The King’s Speech, no entanto, não se concentra tanto na grande guerra, mas nas pequenas batalhas da vida de um homem. Inicialmente, o Rei George VI (Colin Firth) não passava do segundo filho de George V (Michael Gambon), herdando apenas o título de Duque de York e um monte de eventos sociais chatos onde deveria ir e, de preferência, falar alguma coisa. O problema é que ele era gago, o que rendia uma infinidade de situações embaraçosas. Com o tempo, as coisas só pioram devido a disseminação do rádio. Por isso, sua esposa, Elizabeth (Helena Bonham Carter), busca por um médico para o marido e acaba concordando em submetê-lo aos métodos pouco ortodoxos de Lionel Logue (Geoffrey Rush). As coisas vão indo bem, mas o rei morre e seu filho mais velho (Guy Pearce) abre mão de ser o Rei Edward VIII por causa de um relacionamento com uma mulher divorciada e de hábitos duvidosos. A responsabilidade do trono acabada indo para o agora Rei George VI, justamente em uma época histórica bastante atribulada onde ele deve representar a voz da nação em pronunciamentos de rádio.

Dessa forma, ao transformar assuntos históricos em um simples plano de fundo, a história contada em The King’s Speech acaba adquirindo uma universalidade maior, aproximando o público daquele homem que sofreu com uma educação rígida, mas que agora tenta dar a volta por cima. A atuação de Colin Firth é fantástica, assim como a de todo o elenco e ele é digno de todos os prêmios que recebeu na última temporada. Helena Bonham Carter, por sua vez, consegue trazes alguma comicidade para o papel, ao mesmo tempo em que mostra o que realmente significa fazer parte da realeza e se integrar a todas essas formalidades.

Aliás, o filme é repleto de situações engraçadas, provocadas pela gagueira, pelas tentativas de cura e pelos próprios modos da família real. No entanto, é como se tudo fosse involuntariamente cômico, sem piadas ou elementos que possam estragar a seriedade do filme e todo o respeito que ele tem pelas pessoas que procura retratar. Esse aspecto, na verdade, é uma das principais características do filme, dando a ele um aspecto único e marcante, além de evitar com que pareça apenas mais um filme chato sobre os reis e rainhas da Inglaterra. O “terapeuta da fala”, interpretado por Geoffrey Rush, inclusive, é quem melhor se encaixa nessa questão, principalmente devido a seus métodos, mas também por causa de sua personalidade – que entra em choque com a família real.

Não que The King’s Speech seja um filme completamente diferente de tudo o que você já viu. Ele é bem tradicional, até mesmo porque trata de pessoas com algum compromisso com a tradição, além de trazer figurinos e cenários que, por mais bonitos e elegantes que possam ser, não podem ser chamados de inovadores. A forma de contar essa história também segue os padrões a que já estamos bem acostumados, dando ao filme uma inevitável – e merecida – “cara de Oscar”.

Reafirmo que, no entanto, se não fosse a comicidade involuntária, o filme seria muito comum e até chato. Portanto, mesmo não se tratando de entretenimento fácil, The King’s Speech é muito agradável e não precisa assustar ninguém. Pelo contrário, ele só quer aproximar mais as pessoas de um cinema de qualidade, elegância e, por que não mencionar, realeza.

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