Divagações: Nuovo Cinema Paradiso
5.7.11Dizem que, na versão internacional, esse filme tinha 124 minutos. Felizmente, a versão que caiu em minhas mãos é a estendida, com 173 minutos. Eu até consigo entender como conseguiram cortar 50 minutos de Nuovo Cinema Paradiso, afinal, alguns momentos são bastante parados e há situações um pouco repetitivas. Ainda assim, recomendo a versão mais longa, pois ela encheu meus olhos de lágrimas. Só para deixar claro, a única vez que eu havia chorado vendo um filme foi porque eu tinha brigado com o meu pai antes. O filme em questão era uma comédia boba e totalmente incapaz de fazer alguém chorar por si só.
O filme conta a história da vida de Salvatore Di Vita, um personagem com um nome bastante sugestivo. Quando criança (interpretado por Salvatore Cascio), ele é apenas mais um órfão de guerra na Itália pobre do final da década de 1940. Sua única diversão é incomodar Alfredo (Philippe Noiret), o projecionista do cinema local. A amizade dos dois cresce de uma forma tão grande que permanece durante a adolescência do rapaz (quando Marco Leonardi assume o papel). Nessa fase, Di Vita começa a viver um complicado romance com a bonita jovem Elena Mendola (Agnese Nano). No entanto, a história tem uma quebra nesse ponto. Di Vita muda seu nome e se torna um profissional bem sucedido, não sabemos exatamente o que aconteceu com ele, mas vamos descobrindo à medida que ele mesmo (agora vivido por Jacques Perrin) revisita seu passado.
Nessa missão, ele revisita o ambiente isolado e cheio de tipos engraçados que habitam a pequena cidade. Praticamente todo o filme se desenrola no cinema ou na praça onde ele se situa. Ao mesmo tempo em que isso acentua o quanto o filme custou, também valoriza os atores, que se esforçam para entregar um bom trabalho. Eles, claro, são ajudados pela direção delicada de Giuseppe Tornatore e pela própria carga de puro “italianismo” presente no filme.
Na verdade, a história não é muito surpreendente nem inovadora – aliás, é bastante óbvia. Mas não é isso o que importa. Nuovo Cinema Paradiso é uma obra sensível. O filme transporta quem o vê para aquela realidade onde uma mãe bate no filho que gastou o dinheiro do leite para comprar ingressos para o cinema. É um local onde o cinema é desorganizado, bagunçado, sujo, cheio de pessoas que não sabem se comportar naquele ambiente. Ao mesmo tempo, quando a sala de cinema foi tão divertida?
Depois de ser transportado para esse ambiente, o que importa não é mais a história com início, meio e fim. Afinal, aquele lugar se torna real e são as pessoas que o fazem tão cativante. O filme trata seus personagens com carinho, dando o devido tempo para que o espectador crie vínculos com os personagens e passe a se importar realmente com eles. A mãe do protagonista, Maria Di Vita (Antonella Attili e Pupella Maggio), por exemplo, é uma personagem complexa de quem o filho se aproxima e se afasta algumas vezes, mas capaz de transmitir em cada ação uma dimensão profunda a um relacionamento familiar básico – algo que a maior parte dos filhos nunca chega a entender por completo, inclusive eu e você.
Nuovo Cinema Paradiso, na realidade, é uma reunião de histórias de vida. São as histórias de amor que rodeiam uma única pessoa durante sua trajetória, tornando-a rica. A busca por um pai, o amor de mãe, as amizades, a paixão adolescente, o cinismo do jovem adulto que tenta se afastar sem sucesso, a nostalgia, o cinema, as decepções, as lutas infrutíferas, os sucessos, os sonhos... Até que se sente falta de algo. E só nos resta ir resgatar.
A vita non è come l'hai vista al cinematografo, a vita è cchiu difficili. Vattinni, tonnatinni a Roma! Tu si giovane, il mondo è tuo e io sugnu vecchiu: non voglio più sentirti parlare, vogghiu sentiri parrari di tia. (Alfredo)
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