Divagações: Secretariat

Deve ser uma questão cultural, mas o fato é que nunca acreditei muito no potencial de Secretariat . O filme, pelo que eu via nos materiais d...

Deve ser uma questão cultural, mas o fato é que nunca acreditei muito no potencial de Secretariat. O filme, pelo que eu via nos materiais de divulgação, mais parecia uma nova versão de Seabiscuit, que, aliás, já não me havia emocionado muito lá em 2003 (talvez eu precise rever o filme, mas a verdade é que ele não tocou meu coração na época). A história, no entanto, é sensivelmente diferente.

Penny Tweedy (Diane Lane) é uma dona de casa, mãe de quatro filhos. Em plenos anos 1960, ela se orgulha da filha adolescente mais velha (Amanda Michalka), que começa a ter uma consciência política mais ampla do que “vamos acabar com os comunistas”. Esse tipo de atitude a coloca em um posicionamento diferente comparado ao que seu marido, Jack Tweedy (Dylan Walsh), gostaria. Ainda assim, a rotina familiar segue em frente. Isso só vem a mudar com a morte da mãe de Penny e a senilidade do pai, quando ela se vê obrigada a se dividir entre as obrigações familiares e o haras onde cresceu. Em uma tentativa de salvar a propriedade, ela aposta todas as fichas na cria ainda não nascida de uma de suas éguas – o potrinho que vem a se tornar Secretariat.

Dessa forma, além de acompanhar a história real do cavalo (que tem até estátuas em sua homenagem), o filme conta a história de sua dona. Penny Tweedy é uma mulher de negócios com um forte caráter empreendedor (ela se formou na Columbia Business School e atualmente tem 89 anos). No filme, essa mulher é retratada com muito carinho e, também, muita garra. Obviamente, ela cai em alguns clichês de mulher forte e decidida que está a frente de sua época, mas isso não chega a incomodar, pois a personagem tem suas complexidades, além de diversos dramas paralelos para lidar.

Também merecem destaque as performances dos companheiros de Penny na transformação de Secretariat em campeão. John Malkovich, como só ele é capaz de fazer, equilibra o engraçado e o patético como Lucien Laurin, o treinador que sai da aposentadoria para assumir essa tarefa. Já Margo Martindale esbanja doçura como Miss Ham, a secretária que escolheu o nome do cavalo (não culpem a pobre mulher, ela teve que pensar em muitas sugestões até que aceitassem algo). Otto Thorwarth, por sua vez, capricha nas tiradas sobre baixinhos e se suja de lama várias vezes como o jóquei Ronnie Turcotte. Por fim, Nelsan Ellis coloca o pé de todos no chão como o cuidador do cavalo, Eddie Sweat. Todas essas pessoas realmente fizeram parte dessa história e acreditaram no que parecia ser impossível.

É claro que, como se trata de uma história real, não é difícil saber o que acontece em Secretariat. Lidando com alegrias e tristezas previsíveis, o diretor Randall Wallace caprichou nas cenas de corrida. Os enquadramentos são ótimos e empolgantes – e a lama voa para todo lado sem dó. Aliás, a fotografia do filme, como um todo, é muito bonita, pois abusa das paisagens convidativas. Deve ter sido uma delícia de trabalho para Dean Semler, mais acostumado com filmes de ação ou terror.

Mesmo não tendo um incrível desempenho nas bilheterias mundo afora (o filme arrecadou pouco mais de 60 milhões, o que pode ser considerado um prejuízo), Secretariat emociona e encanta com uma bela história, que merecia ser contada pelo cinema com um elenco bom como esse. Aproveite para ver quando estiver buscando algo bonito, mas que não seja um grande drama – afinal, tristeza não combina com a personalidade de Penny Tweedy.

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1 recados

  1. Também duvidava da "qualidade" deste filme. Baca saber que é bom. Vou assistir!

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