Divagações: The Tree of Life

O filme acabou, as luzes se acenderam e o Vinicius Ricardo Tomal – que costuma colaborar com textos para o Cinema de Novo – olhou para mi...

O filme acabou, as luzes se acenderam e o Vinicius Ricardo Tomal – que costuma colaborar com textos para o Cinema de Novo – olhou para mim e disse: “Ainda bem que é você quem vai escrever essa resenha e não eu”. Realmente, essa não é uma tarefa fácil. The Tree of Life em nenhum momento quis ser um filme simples e acessível, sendo pretensioso e correndo grandes riscos do início ao fim.

Ao menos descobri porque a recepção no Festival de Cannes foi tão controversa. Até mesmo na sala de cinema em que eu estava houve uma debandada (mas também teve gente aplaudindo no final). Isso aconteceu porque o filme não é exatamente o que você pensa após ler a sinopse que circula por aí: “A história acompanha uma família com três meninos durante a década de 1950 enquanto o mais velho perde a inocência”. Bom, ele se torna esse filme depois dos dinossauros – sim, há dinossauros e eu não recomendo o filme se você não conseguir levar essa cena minimamente a sério (os efeitos não são dos melhores, mas o que vale é a intenção).

Afinal, a ideia de The Tree of Life é falar sobre a vida de uma maneira bastante poética. Para isso, o filme utiliza de seu oposto, a morte, além de outros recursos como a infância e o relacionamento com os pais. Jack (Sean Penn) é um adulto com um bom emprego e alguns dramas próprios, como o relacionamento conturbado com o pai, Mr. O'Brien (Brad Pitt). O surgimento desses atritos é mostrado na infância do personagem (quando ele é interpretado por Hunter McCracken). Vemos seu nascimento, a vinda dos dois irmãos mais novos, as amizades e os acidentes de percurso. O diretor e roteirista Terrence Malick demonstra grande sensibilidade ao filmar a infância e chega a ser bonito ver os meninos serem crianças tão verdadeiras. Nesse momento, se destaca a presença delicada e carinhosa da mãe, Mrs. O'Brien (Jessica Chastain), mais próxima a um anjo que a uma pessoa real.

Outro aspecto bastante trabalhado no decorrer do filme é a religião. A figura da mãe, especialmente, demonstra uma grande fé em Deus e na natureza, algo que se contradiz e se complementa. A maneira como os filhos absorvem essa questão também é relevante, assim como a forma como o filme demonstra seu próprio jeito de ver o assunto. The Tree of Life é um filme sobre o milagre da vida e ele acredita em uma força superior. Para quem está acostumado a um cinema que nunca toca no assunto para não ofender ninguém, isso pode causar muita estranheza. No entanto, The Tree of Life consegue ser muito bonito visualmente e muito delicado na forma de tratar seus personagens, sendo difícil não se envolver com a temática e colocar suas próprias crenças em questão.

Ligado a isso, está outro assunto do filme: o perdão. É através dele que o Jack adulto consegue clarear sua visão e enxergar melhor o seu passado. Dessa forma, o filme segue seu percurso de forma fragmentada, não contando exatamente uma história, mas seguindo o fluxo dos sentimentos. Os personagens têm nome apenas nos créditos, sendo difícil compreender alguns trechos. Não que uma compreensão absoluta seja possível, uma vez que o filme usa muitas metáforas e não facilita nem um pouco para o espectador. Assistir The Tree of Life, por si só, é um desafio – mas é uma experiência bonita e tocante.

RELACIONADOS

0 recados