Divagações: Kaze no Tani no Nausicaä

Ainda bem que existe TV a cabo. Se não fosse assim, como mais eu conseguiria assistir legalmente a Kaze no Tani no Nausicaä ? São tan...

Ainda bem que existe TV a cabo. Se não fosse assim, como mais eu conseguiria assistir legalmente a Kaze no Tani no Nausicaä? São tantos bons filmes que nunca chegam ao Brasil que até dá para entender porque tanta gente apela para os downloads (embora não seja exatamente pirataria quando não existe um distribuidor para o país).

O filme conta a história da princesa Nausicaä (Sumi Shimamoto). Ela vive em um mundo futurista, mas de organização praticamente feudal, onde é adorada pelos seus súditos, embora seja considerada um tanto excêntrica. A verdade é que Nausicaä não se sente ameaçada pelas criaturas gigantescas e de muitos olhos chamadas ohm. Ela as compreende como animais irritados, que estão preocupados em manter em harmonia a floresta onde vivem e que, por sua vez, é um ambiente bastante tóxico, onde é preciso usar máscaras para se respirar. O país onde a princesa mora é um vale próximo a essa floresta e que pode, em pouco tempo, ser destruído por ela. Assim, eles são invadidos pela nação de Tolmeki, que pretende destruir a floresta com base na força. Embora seja uma pacifista e se recuse a deixar as pessoas de seu país morrerem, Nausicaä começa a procurar por alternativas que salvem a todos, o que inclui a floresta, as plantas venenosas, os insetos gigantes e até os ohms. Nesse processo, ela entra em contato com o príncipe do reino vizinho de Pejite, Asbel (Yôji Matsuda ou Shia LaBeouf, na versão em inglês).

Lançado no Japão em 1984, o filme traz uma mensagem de preservação que é bastante adequada para os dias de hoje, com a vantagem de mostrar a questão a partir de um ponto de vista diferente do usual. O diretor, Hayao Miyazaki, adaptou seu próprio mangá para contar essa história que é considerada sua obra-prima, o que é um grande elogio, uma vez que quatro dos dez filmes que ele dirigiu estão no Top 250 do Internet Movie DataBase (IMDb).

Ainda assim, Kaze no Tani no Nausicaä tem problemas visuais e de estruturação de roteiro que são facilmente percebidos hoje em dia. O visual das naves utilizadas pelas diferentes nações é antigo e contrasta muito com as construções e outros elementos tecnológicos que aparecem no decorrer do filme. O planador da protagonista, por exemplo, é mais bonito, aerodinâmico e resistente que os equipamentos utilizados em combate, o que não faz muito sentido, uma vez que deveria ser um instrumento de lazer. Além disso, fica claro que o universo é rico e poderia ser melhor explorado, principalmente se houvesse mais dinheiro na produção (a economia na animação é visível em determinadas cenas).

Apesar dessas pequenas dificuldades, o filme conta sua história com muita delicadeza e magia, mantendo quem assiste constantemente na expectativa a respeito do que vai acontecer em seguida. Kaze no Tani no Nausicaä não é uma produção óbvia, cheia de saídas fáceis. O filme possui personagens complexos, que possuem um passado e têm seus próprios valores. Isso valoriza a trama, que cresce com a sabedoria do viajante Yupa (Gorô Naya), as lendas da velha Oh-Baba (Hisako Kyôda) e até mesmo os dramas da vilã Kushana (Yoshiko Sakakibara). A própria Nausicaä tem detalhes em sua personalidade que não chegam a ser explicados para o público e a personagem grega Nausícaa apenas adiciona elementos interessantes à questão.

Dessa forma, as crianças conseguem se encantar com os aspectos mais simples da trama e a beleza dos cenários. Já os adultos podem se concentrar naquilo que está nas entrelinhas e aprender um pouco com a maneira japonesa de contar uma história bonita e, ao mesmo tempo, relevante.

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