Divagações: Kaze no Tani no Nausicaä
21.11.11
Ainda bem que existe TV a cabo. Se não fosse assim, como mais eu
conseguiria assistir legalmente a Kaze no Tani no Nausicaä? São tantos bons
filmes que nunca chegam ao Brasil que até dá para entender porque tanta gente
apela para os downloads (embora não seja exatamente pirataria quando não existe
um distribuidor para o país).
O filme conta a história da princesa Nausicaä (Sumi Shimamoto). Ela
vive em um mundo futurista, mas de organização praticamente feudal, onde é
adorada pelos seus súditos, embora seja considerada um tanto excêntrica. A
verdade é que Nausicaä não se sente ameaçada pelas criaturas gigantescas e de muitos
olhos chamadas ohm. Ela as compreende como animais irritados, que estão
preocupados em manter em harmonia a floresta onde vivem e que, por sua vez, é
um ambiente bastante tóxico, onde é preciso usar máscaras para se respirar. O
país onde a princesa mora é um vale próximo a essa floresta e que pode, em
pouco tempo, ser destruído por ela. Assim, eles são invadidos pela nação de
Tolmeki, que pretende destruir a floresta com base na força. Embora seja uma
pacifista e se recuse a deixar as pessoas de seu país morrerem, Nausicaä começa
a procurar por alternativas que salvem a todos, o que inclui a floresta, as plantas
venenosas, os insetos gigantes e até os ohms. Nesse processo, ela entra em
contato com o príncipe do reino vizinho de Pejite, Asbel (Yôji Matsuda ou Shia LaBeouf, na versão em inglês).
Lançado no Japão em 1984, o filme traz uma mensagem de preservação que
é bastante adequada para os dias de hoje, com a vantagem de mostrar a questão a
partir de um ponto de vista diferente do usual. O diretor, Hayao Miyazaki, adaptou
seu próprio mangá para contar essa história que é considerada sua obra-prima, o
que é um grande elogio, uma vez que quatro dos dez filmes que ele dirigiu estão no Top 250 do Internet Movie DataBase (IMDb).
Ainda assim, Kaze no Tani no Nausicaä tem problemas visuais e de
estruturação de roteiro que são facilmente percebidos hoje em dia. O visual das
naves utilizadas pelas diferentes nações é antigo e contrasta muito com as
construções e outros elementos tecnológicos que aparecem no decorrer do filme.
O planador da protagonista, por exemplo, é mais bonito, aerodinâmico e
resistente que os equipamentos utilizados em combate, o que não faz muito
sentido, uma vez que deveria ser um instrumento de lazer. Além disso, fica
claro que o universo é rico e poderia ser melhor explorado, principalmente se
houvesse mais dinheiro na produção (a economia na animação é visível em
determinadas cenas).
Apesar dessas pequenas dificuldades, o filme conta sua história com
muita delicadeza e magia, mantendo quem assiste constantemente na expectativa a
respeito do que vai acontecer em seguida. Kaze no Tani no Nausicaä não é uma
produção óbvia, cheia de saídas fáceis. O filme possui personagens complexos,
que possuem um passado e têm seus próprios valores. Isso valoriza a trama, que
cresce com a sabedoria do viajante Yupa (Gorô Naya), as lendas da velha Oh-Baba
(Hisako Kyôda) e até mesmo os dramas da vilã Kushana (Yoshiko Sakakibara). A
própria Nausicaä tem detalhes em sua personalidade que não chegam a ser
explicados para o público e a personagem grega Nausícaa apenas adiciona
elementos interessantes à questão.
Dessa forma, as crianças conseguem se encantar com os aspectos mais
simples da trama e a beleza dos cenários. Já os adultos podem se concentrar
naquilo que está nas entrelinhas e aprender um pouco com a maneira japonesa de
contar uma história bonita e, ao mesmo tempo, relevante.
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