Divagações: 2 Coelhos

Eu me recuso a colocar ‘cinema nacional’ como sendo um gênero. Embora às vezes eu seja tentada a acreditar que ele abriga apenas quatro c...

Eu me recuso a colocar ‘cinema nacional’ como sendo um gênero. Embora às vezes eu seja tentada a acreditar que ele abriga apenas quatro classificações próprias – novela, favela, comédia e bizarro –, acho muito limitador colocar tanta coisa no mesmo balaio. Aliás, é preciso admitir que a produção está crescendo não somente em volume, mas, principalmente, em alcance. Cada vez mais populares, os filmes nacionais estão precisando se reinventar para agradar ao público, saindo da obscuridade dos festivais, onde apenas a crítica especializada interessava.

2 Coelhos, por exemplo, aposta em uma narrativa própria. Incluindo desenhos e uma narração pouco confiável, o filme também inclui idas e vindas no tempo que podem dar um nó na cabeça de quem não está prestando muita atenção.

Quem conta a história é Edgar (Fernando Alves Pinto). Depois de cometer um crime e sair livre, ele passou uma temporada nos Estados Unidos curtindo a vida. Ao voltar, no entanto, ele já tem um plano bem elaborado em mente e que inclui uma promotora corrupta (Alessandra Negrini), um advogado de bandidos (Neco Vila Lobos), um deputado vendido (Norival Rizzo), dois assaltantes de sinaleiro (Thaíde e Robson Nunes), um bandido procurado (Marat Descartes) e a vítima de seu próprio crime (Caco Ciocler). O que ele quer com essa gente toda? Só vendo o filme para saber. A única coisa que dá para adiantar é que envolve dois coelhos e uma cajadada só.

Irregular e confuso em alguns momentos, o filme consegue segurar a atenção com a linguagem despojada, seja a falada ou a visual. Dirigido, escrito, produzido e editado por Afonso Poyart (que também atua), o filme mantém uma constância praticamente autoral, mas sofre um pouco com esse acúmulo de funções (reparem no nome se repetindo enquanto os créditos sobem). Ainda assim, não podemos negar que é uma ótima maneira de estrear em longas-metragens, afinal, o currículo de Poyart incluía apenas a direção e produção do curta Eu te Darei o Céu.

Outro aspecto diferenciado é a trilha sonora – que não é original. Formada por músicas de rock nacionais e internacionais, ela combina muito bem com o filme e garante um clima diferente do usual (um pouco indie, é verdade, mas diferente). A narração também entra no clima, com Fernando Alves Pinto colocando a credibilidade do próprio personagem em jogo através de entonações ‘suspeitas’ e um vocabulário de rua.

Comparado a filmes de Quentin Tarantino e a Scott Pilgrim vs. the World, 2 Coelhos não alcança o caráter inovador dessas obras, mas faz diversas referências pop. Assim, mesmo não sendo um filme exatamente brilhante, ele procura fugir dos clichês e encontra seus próprios caminhos. Sem menosprezar a inteligência do espectador, 2 Coelhos conta seus segredos apenas quando julga necessário e aposta em uma montagem rápida para contar sua história da maneira mais interessante possível. Pode não inventar a pólvora, mas cumpre seus propósitos e prende a atenção. Sem dúvida, uma boa opção para quem, como eu, ainda está aguardando por novas estreias.

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