Divagações: Abraham Lincoln - Vampire Hunter
11.9.12
Há alguns anos, colocar zumbis, vampiros, alienígenas e todo o tipo de criatura fantástica nas páginas de obras famosas parecia ser uma ideia realmente interessante e original. Não me entendam mal, pois eu mesmo fiquei interessado e comprei a versão americana de Orgulho e Preconceito e Zumbis poucos meses depois de ficar sabendo dela. No entanto, conforme os anos passaram, essas referências foram se tornando saturadas pela exposição da mídia. A ideia de Hollywood chegar atrasada no que era uma tendência de três ou quatro anos atrás foi gerando cada vez menos entusiasmo, sobretudo no caso de uma história que tem como base um elemento cultural desconhecido por nós brasileiros.
A proposta de Abraham Lincoln: Vampire Hunter é mostrar o que seria 'a história real' por trás da vida de Abraham Lincoln (Benjamin Walker), um rapaz que, antes de se dedicar à política, busca vingança pela morte de sua mãe nas mãos de um vampiro, Jack Barts (Marton Csokas). Treinado por Henry Sturges (Dominic Cooper), que o salva da morte nas mãos dos sugadores de sangue, Lincoln parte para Springfield, onde divide o seu tempo entre o trabalho, os estudos e as missões para assassinar os vampiros que se escondem na sociedade local.
De certo modo, parece que esse filme só chegou em terras tupiniquins pela necessidade de ter pelo menos um filme em 3D em cartaz, já que todos os grandes nomes do verão já estão chegando às locadoras. Em outras circunstâncias, raramente veríamos um filme como este no grande circuito. Afinal, Abraham Lincoln é uma figura fora de contexto para qualquer cultura que não seja a estadunidense, onde há uma verdadeira mitificação sobre as figuras presidenciais. É exatamente nessa questão que o filme se apoia, em um conhecimento prévio sobre a vida do personagem principal, trabalhando sobre as lacunas que a história deixou. Para nós, que mal conhecemos a trajetória de Lincoln, o roteiro perde o seu significado, suscitando criticas até mesmo injustas que colocam esse como o pior filme do ano.
O que está longe de ser verdade, já que, mesmo estando longe de ser uma obra prima, Abraham Lincoln: Vampire Hunter tem suas qualidades como cinema pipoca descompromissado. Cenas exageradas, combates acrobáticos e muito sangue jorrando em três dimensões, isso por si só já tornaria o produto mais palatável, sobretudo para aqueles que, sabendo a história do presidente, conseguem encontrar os 'easter eggs' em meio às situações reais. O 3D é competente, com várias cenas de combate aproveitando bem o recurso, embora isso até possa ser considerado gratuito por alguns.
De todo modo, o roteiro é um pouco raso, forçando uma mudança de ritmo na metade final, o que divide o filme de um modo pouco orgânico. Suponho que parte desses problemas tenham sido herdados do livro original, mais do que uma incompetência na parte da direção. Nenhum dos atores é brilhante, mas não me incomodei em nenhum momento com a ausência de grandes nomes, sendo o elenco perfeitamente capaz de assegurar a credibilidade da produção.
Apesar de todos os problemas, Abraham Lincoln: Vampire Hunter é um filme de entretenimento competente, sobretudo se você conseguir relevar alguns defeitos óbvios e aceitar ele como uma produção que beira o trash. É claro que a história é prejudicado pela ausência da mítica imagem do presidente honesto que existe em nosso inconsciente coletivo, mas nada que impeça completamente você de se divertir. Assim, posso até dizer que o filme vale ser assistido, mas não sei se pelo preço que andam cobrando por aí.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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