Divagações: ParaNorman

Apesar de toda a enxurrada de filmes de zumbis, vampiros e lobisomens que dominou o cinema nos últimos anos, sempre vi ParaNorman como u...

Apesar de toda a enxurrada de filmes de zumbis, vampiros e lobisomens que dominou o cinema nos últimos anos, sempre vi ParaNorman como uma chance de apresentar um conteúdo novo dentro de um tema que já se saturou, sobretudo quando as animações em computação gráfica são uma incômoda unanimidade e o stop motion é uma técnica que, em uma irônica consonância com o filme, já está quase morta. Mesmo assim, tinha as minhas ressalvas, uma vez que não importa o quão interessante seja a roupagem, um filme bobo sempre será um filme bobo e, pelos trailers, esse era um risco a se correr.

Norman Babcock (Kodi Smit-McPhee) é um garoto solitário e muitas vezes incompreendido por sua família devido ao seu dom único de ver e falar com fantasmas. Constantemente incomodado na escola por bullys como Alvin (Christopher Mintz-Plasse), Norman tem como único amigo o gordinho Neil (Tucker Albrizzi), igualmente maltratado pelos colegas. Porém, quando uma maldição de uma bruxa de trezentos anos finalmente é libertada, levantando os mortos daqueles que a executaram, somente Norman e seus poderes poderão salvar a cidade do ataque dos mortos-vivos.

Nesse contexto, o uso do 3D é especialmente interessante, sendo favorecido pela dinâmica do stop motion e dando um visual bastante único para aqueles que resolverem ver o filme nos cinemas. A própria animação se beneficia bastante da tecnologia, capaz de adicionar uma camada de polimento que não era possível de se ver até pouco tempo. Porém, devo ressaltar que não será possível encontrar cópias legendadas, o que não é de todo nocivo, já que a dublagem nacional está bastante competente e não atrapalha em nenhum momento.

Assim, o estúdio Laika Entertainment tomou a corajosa iniciativa de continuar produzindo filmes que não fogem da mesmice das animações que temos hoje em dia, não só em uma questão técnica (ao adotar o stop motion), como na própria estética das suas obras, algo que já havia sido feito em Coraline. Também me parece que este foi um filme feito com muito apego a todo um referencial estilístico e narrativo, pois é permeado pela estética dos filmes de zumbis dos anos 1970 e 1980, sobretudo nos detalhes visuais e na maneira como é apresentado.

Também fico contente em perceber que, ao contrário de boa parte das animações atuais, ParaNorman não se esforça para ser inócuo e inofensivo para as crianças, se dando ao luxo de soar um pouco inapropriado em alguns momentos. O humor é bastante orientado em relação aos diálogos e na subversão dos clichês do gênero que inconscientemente esperamos que aconteçam. Na verdade, o próprio tema central do filme é uma contestação dos papéis tradicionais dos filmes de terror, de modo a passar a mensagem principal da obra. Isso torna a narrativa bem mais agradável para um adulto do que poderia ter sido se a única muleta do humor fossem aquelas inevitáveis piadas fáceis – que também aparecem por aqui.

No entanto, ParaNorman não é perfeito e tem suas falhas de ritmo e de roteiro, sobretudo durante a segunda metade do filme. Mesmo assim, é divertido sem insultar a inteligência do espectador, tendo bons momentos para toda a família, sobretudo para quem consegue relevar a temática um pouco mais ‘macabra’ do que alguns pais considerariam saudável. Embora essa talvez não seja a melhor animação do ano, certamente é a mais única e vale a pena dar uma conferida, sobretudo se você está disposto a desembolsar alguns reais a mais em uma sala 3D.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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