Divagações: 50/50

Dizem que gênero é um conceito ultrapassado para os filmes de hoje em dia. Eu acredito parcialmente nessa questão. Afinal, muitos cineast...

Dizem que gênero é um conceito ultrapassado para os filmes de hoje em dia. Eu acredito parcialmente nessa questão. Afinal, muitos cineastas gostam de misturar as coisas e fazer filmes, digamos assim, difíceis de definir. Ao mesmo tempo, é preciso ter uma boa noção de gênero para conseguir subverter as coisas de forma a ‘brincar’ com as expectativas do público.

Digo isso antes de começar a falar sobre 50/50 porque o filme lida com aquele delicado equilíbrio entre comédia e drama, que são praticamente inversos. Eu, particularmente, tenho a tendência de gostar mais de dramas, assim, a minha interpretação do filme recai mais sobre essas questões. No entanto, não duvido que alguém diga ter rido muito com essa história.

Baseado em algo que realmente aconteceu na vida do roteirista Will Reiser, o filme conta a história de Adam (Joseph Gordon-Levitt), um rapaz bonzinho que tem um emprego estável, uma namorada bonita chamada Rachael (Bryce Dallas Howard) e um amigo brincalhão, Kyle (Seth Rogen, que, na história real, é mesmo amigo de Reiser). Sentindo dores nas costas, Adam vai ao médico e acaba descobrindo que tem um tipo raro de câncer na coluna. A partir desse momento, sua vida muda e começam os tratamentos, os exames e as sessões de terapia, com direito a uma absurda psicóloga em treinamento, Katherine (Anna Kendrick). Detalhe, pesa sobre tudo isso as expectativas de vencer a doença: 50%.

Um projeto com características pessoais, filmado no Canadá, comandado pelo jovem diretor Jonathan Levine e com um elenco jovem e disposto a colaborar (foi Bryce Dallas Howard quem inventou o título), 50/50 precisou lidar com um tema desagradável para a maior parte do público – convenhamos que as pessoas geralmente não gostam de doença – e a saída foi justamente tentar aproveitar a experiência. O filme tem um protagonista neutro e tolerante, aquele tipo de pessoa que não merece passar por uma coisa assim. Ao mesmo tempo em que é difícil não simpatizar com ele, percebemos certa apatia, a falta de um diferencial. Inclusive, rumores diziam que Joseph Gordon-Levitt poderia até ser indicado ao Oscar pelo papel, mas essa expectativa murchou depois da estreia.

No entanto, essa falta de um carisma maior é compensada pelas personalidades dos outros personagens. Seth Rogen parece se divertir bastante e praticamente interpreta a si mesmo (a cena da raspagem do cabelo não estava no roteiro e foi totalmente improvisada), ao passo que Anna Kendrick abusa da falta de preparo da terapeuta para ser fofa. Enquanto eles puxam para o lado cômico, Anjelica Huston, como a mãe de Adam, coloca o pé de todos no chão e traz o drama à tona.

Como uma obra disposta a divertir ao mesmo tempo em que expande sua maneira de enxergar a vida, 50/50 se esforça e consegue agradar. Não acredito que a vida de ninguém mude por causa desse filme em especial, mas ele é repleto de boas intenções e não deve incomodar ninguém – sob muitos aspectos, pode ser considerado morno. É uma boa opção para aqueles que estão indecisos sobre o que querem assistir, que não desejam uma comédia rasgada nem um drama de fazer chorar.

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