Divagações: Shame
13.11.12
O vício por sexo está em alta. Várias celebridades admitiram sofrer desse mal (algumas com certa pitada de orgulho) e o assunto tem ganhado repercussão. Embora seja interessante para revistas, programas jornalísticos e de curiosidades, o tema se torna mais delicado para uma mídia como o cinema – principalmente o ficcional. Como expor com obrigatoriamente uma junção de imagens, sons e diálogos um problema causado pelo excesso de uma coisa boa sem que ela pareça melhor? Além disso, sexo não é igual chocolate, as pessoas têm vergonha de falar sobre o assunto e há muitos tabus envolvidos (sim, mesmo na sociedade atual).
Shame escapa de diversas questões por não trazer um atendimento médico, deixando seus personagens com a consciência mais ou menos livre para agirem, sofrerem, errarem e fazerem tudo o mais que quiserem. Além disso, o principal relacionamento que vemos é entre dois irmãos (e livre de troca de fluídos). Brandon (Michael Fassbender) é o viciado, enquanto Sissy (Carey Mulligan) é sua irmã problemática. Ele vivia sozinho e conseguia controlar razoavelmente bem a situação até a chegada dela, que acaba diminuindo sua privacidade e trazendo novos problemas. Além disso, há o chefe de Brandon, David (James Badge Dale), que acaba se envolvendo com Sissy mesmo sendo casado.
Repleto de cenas de nudez, Shame parece uma invasão na vida íntima de alguém. Nos primeiros dez minutos do filme, o protagonista aparece quase o tempo todo sem roupa e leva um estilo de vida um pouco chocante (para quem foi assistir sem ter ideia do que iria encontrar, pelo menos). É praticamente um teste: se você não conseguir suportar a vergonha de ver um homem andando pelado pela casa, recebendo mulheres e fazendo xixi (o que foi filmado de verdade!), provavelmente você não estará preparado para o filme como um todo.
Assim, Shame desconstrói um pouco a imagem idealizada e angelical de Carey Mulligan, que aparece com roupas estranhas e um cabelo mal pintado, ao mesmo tempo em que faz parte dessa atual ótima fase na carreira de Michael Fassbender. Inclusive, é um questionamento interessante pensar como esse tipo de problema é ‘menos pior’ em um homem. Que tipo de reações o filme provocaria se fosse protagonizado por uma mulher? Ele nem precisaria ser estruturado de uma forma diferente, mas é provável que trouxesse reações mais acaloradas.
De qualquer forma, trata-se de uma obra bastante intimista e silenciosa. Não precisamos ouvir os pensamentos do protagonista para percebermos a agonia, pois ela aparece em suas ações. Além disso, ele não possui um amigo próximo com quem pode fazer confissões. A pior parte da doença de Brandon é que ela o leva para um isolamento. Incapaz de namorar com uma única mulher, ele é um cara bonito, simpático e legal que passa todo seu tempo livre sozinho, com prostitutas, pornografia ou garotas fáceis que encontra em bares.
Com o apoio de uma edição cuidadosa, o diretor e roteirista Steve McQueen consegue trazer esse drama de uma maneira sutil e até bonita. Mesmo tratando sobre sexo, Shame não é explícito, apelativo ou sequer sensual. A nudez é tratada com naturalidade e a linguagem não chega a ser chocante. Obviamente, o filme não é muito indicado para crianças e adolescentes, mas qualquer um com a cabeça mais aberta pode apreciar a história.
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