Divagações: The Great Gatsby

Para muitos, o livro The Great Gatsby , de F. Scott Fitzgerald , é considerado ‘o grande romance americano’. No entanto, essa percepção q...

Para muitos, o livro The Great Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, é considerado ‘o grande romance americano’. No entanto, essa percepção que claramente não é muito vista por estas bandas, já que para a maioria dos brasileiros, a história de que esse só fica atrás de Ulisses como o mais influente romance do século XX  não é lá muito conhecida.

Para se ter ideia, há alguns anos, fui atrás do livro por estar curioso para entender a influência da obra para nossos colegas estadunidenses e descobri que não havia nenhuma edição recente do livro sendo publicada. Além disso, mais de quatro décadas separavam as livrarias brasileiras da última tradução, sendo que, apenas em 2004, a L&PM viria a lançar uma nova edição.

Assim, por mais que não compreendamos a carga de importância que é dada para The Great Gatsby em solo americano, é fato que ela existe. Dessa forma, não era de se surpreender a grande apreensão que recaiu sobre essa adaptação escrita e dirigida por Baz Luhrmann, que andava um pouco sumido desde o fracasso de Australia.

Tal como no livro, acompanhamos Nick Carraway (Tobey Maguire), um rapaz que, ao se mudar para uma pequena casa em Long Island (Nova York), se vê morando ao lado da suntuosa mansão do enigmático Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), um sujeito milionário, anfitrião de festas luxuosas, ainda que com um passado um pouco obscuro. Gatsby, então, acaba se aproximado de Nick durante uma de suas festas, ávido por se encontrar com sua prima Daisy (Carey Mulligan), que também faz parte da alta sociedade local, e, aparentemente, conhece o passado de Gatsby, atraindo as suspeitas de seu marido, Tom Buchanan (Joel Edgerton).

Antes de qualquer coisa, preciso dizer que essa talvez seja uma das melhores transposições que já vi da literatura para o cinema, sobretudo quando falamos de um contexto que já não faz mais parte do nosso imaginário. Quando falo isso não se trata exatamente da fidelidade da trama – já que certas liberdades artísticas são tomadas –, mas da maneira de transmitir uma estética e os sentimentos evocados pelo romance de modo compatível com o que nós conhecemos.

A polêmica trilha sonora, com nomes como Beyoncé e Jay-Z (que também é um dos produtores do filme), casa bem com a história, servindo como ferramenta narrativa para nos fazer entender a intensidade daqueles tempos. Afinal, hoje em dia, a música típica da época não está nem um pouco associada à agitação febril que os personagens sentiam naquele contexto. Isso é ainda mais acentuado pela incrível ambientação e pelo figurino, que nos transportam para uma Nova York tão decadente quanto suntuosa, onde os gritantes problemas sociais são varridos para debaixo dos panos.

Mesmo que muitos não gostem da escolha de  DiCaprio para o papel que dá título ao filme, eu pessoalmente não vi do que reclamar. O ator já provou em outras ocasiões que consegue transitar entre os falsos sorrisos e charme necessário para o personagem. Na verdade, pouco posso criticar sobre o elenco, muito bem afinado, sobretudo quanto a dinâmica entre Gatsby, Daisy e Tom. No caso, a única ressalva pode recair sobre Tobey Maguire, cuja constante cara de pateta pode não convencer em uma situação mais densa.

De todo modo, eu não poderia deixar de indicar The Great Gatsby, já que o filme, ao menos tecnicamente, é impecável e retrata um período histórico com um cuidado e capricho que raramente vemos. Inclusive, ele consegue se utilizar do efeito 3D de modo bem pensado e não apenas como um simples truque visual.

Ou seja, não seria um exagero dizer que esta é uma daquelas obras capazes de instituir um novo patamar de qualidade para as adaptações literárias no cinema. Em uma época de vacas magras como esta, onde uns poucos blockbusters medianos dominam a programação dos cinemas, esse filme se torna uma opção com um pouco mais de conteúdo para quem acha que não há mais nada de interessante para ver.

Ao contrário do que normalmente ocorre, os maiores defeitos do filme não vem da má utilização da obra original, mas são de certa forma herdados do romance. Sinto que falta a The Great Gatsby uma conclusão mais empolgante e capaz de se comunicar com o espectador de alguma forma, o que ocorre, sobretudo, para quem não cresceu confrontando o sonho americano.

Afinal, a reflexão especifica sobre o modo de vida de uma nação dificilmente pode ser considerada um valor universal, capaz de provocar uma resposta emocional de quem vive em outro tipo de cultura. Isso é uma pena, pois é exatamente a ausência de um clímax satisfatório que impede que The Great Gatsby seja mais do que apenas um bom filme.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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