Divagações: Singin' in the Rain

Revisitar os clássicos é descobrir a simplicidade do cinema, especialmente em produções dos anos dourados, antes dos grandes blockbusters...

Revisitar os clássicos é descobrir a simplicidade do cinema, especialmente em produções dos anos dourados, antes dos grandes blockbusters. Tempos de filmes mais singelos, onde não eram necessários grandes efeitos especiais, perseguições escalafobéticas, tramas intricadas e elencos inchados. Bastava ter algo a dizer e a capacidade de divertir o público.

Singin' in the Rain é mais ou menos assim. Com o surgimento do cinema falado, os astros Don Lockwood (Gene Kelly, que também dirige o filme) e Lina Lamont (Jean Hagen) sentem que suas carreiras estão ameaçadas. Enquanto ele se esforça para encontrar uma solução e voltar a fazer sucesso – contando, em grande parte, com a ajuda de seu amigo Cosmo Brown (Donald O'Connor) –, ela tenta passar por cima de todos e precisa ser dublada pela namorada de seu companheiro de cena, a aspirante a atriz Kathy Selden (Debbie Reynolds).

Essa premissa simples é intercalada por uma variedade de números musicais – nem todos relevantes. Na verdade, o filme surgiu de forma posterior às canções, de modo que a trama foi criada para encaixar os números, e não o contrário. Assim, você tem sequências como as estreladas pela dançarina Cyd Charisse, que poderiam ser cortadas sem prejuízo algum para a história, por mais que sejam lindas visualmente. Como o filme não parece se levar muito a sério, o recurso funciona melhor do que se poderia esperar.

Para quem não gosta de musicais, Singin' in the Rain pode ser tudo o que essas pessoas criticam no gênero: a história muitas vezes para e dá lugar às músicas, os personagens são caricatos e exagerados, os dramas não convencem e o mundo está longe de parecer real. Ao mesmo tempo, tudo acontece nos estúdios de cinema de Hollywood, o que já é uma desculpa boa o suficiente para tudo isso.

Aliás, como é comum em filmes sobre fazer filmes, essa é uma obra de coração aberto, que parodia e homenageia personalidades, momentos e a sétima arte como um todo. Também é uma obra que lembra os filmes mudos ao permitir que muito seja transmitido ao espectador através da expressão corporal dos atores. Por mais que as letras e melodias possam parecer forçadas em muitas cenas, a coreografia, os figurinos, os cenários e as expressões são perfeitamente condizentes com aquele momento.

Obviamente, acredito que nenhum dos envolvidos saberia que mais de 60 anos depois, Singin' in the Rain ainda seria adorado e elogiado, visto e revisto. Contudo, todos se esforçaram muito para que o filme desse certo – Debbie muitas vezes dormiu no estúdio e ficou com os pés sangrando de tanto ensaiar, Kelly fez a performance que dá título ao filme com febre alta e O'Connor passou alguns dias de cama após uma dança particularmente exaustiva. Isso só para citar sacrifícios pessoais do trio de protagonistas.

Mesmo assim, aqui estamos! Eu ainda me divirto com as danças, fico tensa com as últimas sequências, rio das trapalhadas e acabo me apaixonando com o casal principal. Não é a primeira vez que assisto e está longe de ser a última, já que Singin' in the Rain é uma produção da qual nunca me canso.

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