Divagações: Hot Pursuit
30.6.15
Em um ano em que tanto tem se falado de feminismo e o poder da mulher na mídia, Hot Pursuit aparece para mostrar que ainda há muito para caminharmos e melhorarmos. Afinal, o grande chamariz desse filme ainda são as formas de Sofía Vergara, enquanto Reese Witherspoon traz o lado cômico de seu personagem justamente ao abordar certa ‘masculinização’ de formas e trejeitos.
Ao mesmo tempo, não voltamos para o começo da discussão de gênero. Dirigido por Anne Fletcher, esse filme se assume como uma comédia boba e repleta de clichês, mas também traz duas protagonistas mulheres que precisam lidar com um mundo dominado por homens. Nos dois lados, há ‘estratégias’ para tanto e ambas não deixam de ser vencedoras em seus mundos. Para completar, elas estão preocupadas demais com seus próprios problemas para ficarem concentrando as atenções no sexo oposto.
Cooper (Reese Witherspoon) é uma jovem policial que tem que aguentar poucas e boas dos colegas na delegacia. Eles a chamam de secretária e ignoram o fato de que, embora ela tenha feito uma besteira que atrapalhou e muito sua carreira, ela é uma profissional bem preparada e que poderia ser melhor aproveitada na corporação. Sua grande chance de recomeçar surge com uma missão que precisa ser realizada por uma mulher: escoltar Daniella Riva (Sofía Vergara) e seu marido até um importante julgamento, onde eles irão trair um chefão do tráfico de drogas, Vicente Cortez (Joaquín Cosio).
No entanto, Cooper e seu parceiro são recebidos por dois grupos armados que tentam sabotar a operação, de modo que ela acaba fugindo acompanhada apenas de Daniella e fica sem comunicação. Quando acha que as coisas vão melhorar, acaba descobrindo que alguns de seus colegas policiais são corruptos e precisa estender seu período com a testemunha que, aliás, está cada vez mais relutante.
Hot Pursuit segue, assim, de maneira bastante óbvia. Toda a trama é bastante previsível e as piadas não vão muito além – quem viu os trailers, inclusive, já desfrutou de alguns dos ‘melhores’ momentos. Não dá exatamente para questionar muito o roteiro. Embora as duas protagonistas sejam, a princípio, pessoas inteligentes, elas cometem muitas mancadas (especialmente a personagem de Reese Witherspoon) e nenhuma das duas tem muita profundidade dramática.
Ainda assim, a experiência de ver o filme na companhia de uma galera animada pode ter um efeito positivo na percepção geral da produção. Ir ao cinema sabendo que o objetivo é embarcar em um besteirol deve ajudar a não estragar as expectativas de ninguém. Para quem quer rir, eu aconselho permanecer na sala de cinema enquanto sobem os créditos, pois os erros de gravação ganham até de algumas das melhores cenas.
Ao mesmo tempo, depois de ver filmes como Wild e Chef, não deixa de ser um pouco triste ver que as atrizes precisam de algo como Hot Pursuit para pagar as contas. Talvez existissem boas intenções (e eu quero acreditar que sim), mas a produção simplesmente não entrega nada além de duas mulheres se cutucando durante quase 1h30 por terem estilos de vida diferentes. Resumindo, há muitas duplas cômicas femininas tendo sucesso e mostrando como se faz – esse filme tenta, mas ele não é um exemplo disso.
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