Divagações: Inside Out

Quando a Pixar surgiu, tratava-se de uma empresa muito inovadora, que utilizava tecnologia de ponta para contar boas histórias. Embora v...

Quando a Pixar surgiu, tratava-se de uma empresa muito inovadora, que utilizava tecnologia de ponta para contar boas histórias. Embora você não duvidasse dos investimentos feitos em equipamento, pessoal e treinamento e em todo o esforço geral para trazer algo visualmente invejável (principalmente pelos concorrentes), o que aqueles filmes tinham a dizer ainda era mais importante que qualquer outra coisa.

O tempo foi passando e as pessoas começaram a ‘sacar’ a Pixar. Foram percebidas estruturas similares, truques comuns, narrativas parecidas... Outras pessoas começaram a fazer um trabalho similar e o estúdio começou a ‘cansar’. Para se manter como uma empresa inovadora, afinal de contas, é preciso suar em dobro e trazer sempre o inesperado, aquilo que nem o seu público sabia que queria. Não é fácil! Mas a missão foi aceita.

Em Inside Out, Riley (Kaitlyn Dias) é uma menina comum de 11 anos que gosta de jogar hóquei no gelo e é bastante espontânea e brincalhona. Tudo está bem em sua vida até que ela e seus pais mudam de casa. Ela fica longe dos amigos, o caminhão de mudança não chega nunca, a casa nova é feia e o primeiro dia na nova escola é simplesmente péssimo. Ao longo do filme, acompanhamos tudo isso acontecer, mas a partir de uma perspectiva diferente: a mente de Riley.

Joy (Amy Poehler) está no comando, liderando todas as emoções da menina com muito otimismo e respostas rápidas – e alegres. Ela dá instruções para Fear (Bill Hader), Anger (Lewis Black) e Disgust (Mindy Kaling) – responsáveis pelo medo, pela raiva e pela aversão, respectivamente – com o objetivo de fazer Riley enfrentar a vida da melhor forma possível, sendo social e criando novas memórias felizes. O único problema é a presença de Sadness (Phyllis Smith) – tristeza –, com quem Joy não sabe lidar em absoluto. A princípio, tudo estaria bem, mas a emoção renegada começa a ter comportamentos estranhos e ela e Joy acabam entrando em apuros justamente em um momento importante da vida de Riley.

A conjunção entre o que acontece dentro e fora da mente da menina é algo muito interessante de acompanhar e demonstra todo o capricho e a atenção das pessoas dedicadas a contar essa história. Não sei exatamente como psicólogos reagiram a Inside Out, mas acredito que essa foi uma maneira delicada de expressar um momento complicado da vida de uma pessoa. Ela não é mais uma criança e começa a tomar consciência do mundo que a cerca por meio de um evento um tanto quanto traumático. Além disso, as próprias emoções começam a ficar um pouco mais complicadas. É uma ideia maravilhosa trazer isso para o cinema.

De um modo geral, Inside Out não parece ser um filme que traz grandes inovações tecnológicas, mas muitos de seus efeitos foram consideravelmente caros. A produção tinha uma equipe pequena de animadores, cerca de 45 pessoas, o que é, aproximadamente, metade do que o estúdio vinha utilizando, contudo, eles dedicaram mais de cinco anos ao projeto. Para completar, há muitos desafios adicionais em lidar com personagens que brilham, têm texturas diferentes de tudo o que você conhece, além de viverem em um lugar sem qualquer conexão com o mundo real (a ainda há uma parte da história que precisa ser fiel à ‘realidade’).

Esse não é o trabalho de apenas uma cabeça, mas uma conjunção de ideias. A trama é fantástica? Não. Mas o conceito é muito bom e houve um esforço em tornar a jornada mais significativa para os personagens, ao invés de algo descolado da premissa (como o estúdio já se deu ao luxo de fazer). O texto é absolutamente redondo e bem resolvido, há muitas piadas para pessoas de todas as idades se divertirem e isso é acompanhado por cenários maravilhosos. A Pixar se mexeu, mas eles ainda trabalham do mesmo jeito – e quem vai dizer que não é um ótimo trabalho?

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