Divagações: John Wick

Acusado de atuar de forma robótica, sem expressão e de não conseguir repetir os antigos sucessos, Keanu Reeves foi sumindo devagarinho d...

Acusado de atuar de forma robótica, sem expressão e de não conseguir repetir os antigos sucessos, Keanu Reeves foi sumindo devagarinho do cinema até praticamente pausar a carreira, em 2010. Foi então que as pessoas perceberam que sentiam a sua falta.

Nesse contexto, John Wick faz parte de uma grande retomada que começou com Man of Tai Chi e 47 Ronin. Isso não muda o fato, contudo, que Reeves não é um dos intérpretes mais cativantes e expressivos do mundo. Ele é uma boa escolha para o papel do protagonista, mas consigo pensar em diversos outros atores que fariam um trabalho maior. Ainda assim, é ótimo tê-lo de volta, ainda mais com cenas de briga bem coreografadas.

A história é simples. Um ex-assassino de aluguel (Reeves) se livrou dos vínculos com a máfia para viver em paz com a esposa (Bridget Moynahan). Cinco anos após sua ‘aposentadoria’, ela fica doente e morre, deixando uma surpresa para o marido, um cachorrinho. Assim, tudo o que ele ama na vida se resume ao novo companheiro e ao seu antigo carro – e ambos são tirados dele por Iosef (Alfie Allen), filho de seu antigo patrão, Viggo Tarasov (Michael Nyqvist).

Desse modo, a vingança é o grande motor do filme, acompanhada pelas consequentes medidas de defesa, proteção e eventual ataque tomadas pela máfia. O detalhe é que tudo gira, também, ao redor da construção do personagem principal. É preciso entender a fragilidade do homem para compreender a sua raiva. Ao mesmo tempo, é necessário acreditar em todas as suas qualificações profissionais para justificar a duração do filme (qualquer outro seria aniquilado em alguns minutos).

Essas duas partes da personalidade de John Wick, contudo, parecem dissonantes e o filme se preocupa excessivamente com a segunda. Dessa forma, temos uma vingança com uma motivação fraca e um assassino bom demais para ter tanto trabalho com uma missão simples. Faltou equilíbrio.

Apesar dessa escorregada, no entanto, o texto de Derek Kolstad acaba revelando uma surpresa para o espectador. Esse mundo dominado pela máfia e por assassinos de aluguel é repleto de regras, com condutas sociais próprias e um círculo de conhecidos. Marcus (Willem Dafoe) e Perkins (Adrianne Palicki), por exemplo, são velhos conhecidos do protagonista, o que não os impede de aceitar um grande prêmio por sua cabeça. Todos se hospedam em um mesmo hotel e conversam com as mesmas pessoas, criando um jogo de lealdades e traições. Sinceramente, acho que todo esse universo merecia uma história melhor.

Afinal, visualmente, John Wick é um filme caprichado. Os cenários são muito bons, as lutas são empolgantes, a música, o figurino e a iluminação cumprem bem seu papel, o elenco de apoio ajuda muito (Lance Reddick está fantástico!) e há um compromisso em fazer as coisas direito. É uma pena que a grande falha do filme esteja em algo tão básico como a construção do protagonista. Caso contrário, o filme seria muito divertido.

Claro que há espaço para continuações e melhoras, mas John Wick é o que é – e deixa muito a desejar. É uma pena especialmente para os fãs de Keanu Reeves, mas acredito que ele vai conseguir fazer escolhas melhores no futuro. E ele está com pelo menos seis filmes previstos para esse e o próximo ano, o que não é pouca coisa!

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