Divagações: The Man from U.N.C.L.E.
27.8.15
Em uma terra de adaptações, refilmagens, remakes e reboots é fácil se perder quando não se conhece o material original. Ainda que existam obras que são bastante didáticas para marinheiros de primeira viagem, existem outras que não estão lá muito preocupadas em explicar qualquer coisa, quer seja por suporem que você já conhece a franquia, quer seja porque não querem apelar para o público original (como, aliás, parece ser o caso do retelling de Jem and the Holograms).
Em todo caso, não tenho ideia se The Man from U.N.C.L.E. se enquadra nessa categoria, já que nunca tive contato com a série homônima dos anos 1960 e nem sabia se a minha ignorância sobre o que diabos é U.N.C.L.E e quem é o agente dela nesse filme iria atrapalhar a experiência. Porém, no final das contas, estas são aquelas respostas que só aparecem nos últimos quinze segundos da história – apontando para uma possível continuação. Não que isso seja um empecilho para entender e se divertir com o filme, pois essa continua sendo apenas uma trama de espionagem feita para empolgar, exibindo todos aqueles elementos cool que Guy Ritchie adora fazer, mas sem complicar demais.
A trama em si vai direto ao ponto. Durante o auge da Guerra Fria tanto os Estados Unidos quando a União Soviética são obrigados a cooperar em uma missão secreta para impedir uma organização terrorista de desenvolver armas nucleares. Para esta tarefa, ambas as potências designam seus melhores agentes: enquanto a CIA recruta o bon vivant e ex-criminoso Napoleon Solo (Henry Cavill) – que também exibe um dos piores nomes da história –, a KGB envia o compenetrado e por vezes explosivo Illya Kuryakin (Armie Hammer). Acompanhados da mecânica alemã Gaby Teller (Alicia Vikander), a dupla vai ter de colocar as diferenças de lado para impedir um possível conflito nuclear global.
Já nos primeiros minutos do filme é possível perceber que The Man from U.N.C.L.E. segue muito mais a linha dos antigos filmes de espionagem com suas frases de efeito e claros exageros do que a tendência mais contida que estava em alta em um mundo pós-Bourne. Ainda assim, não é uma obra que se apega demais aos clássicos, apostando em uma estética de videoclipe com cortes muito rápidos e uma edição dinâmica, acompanhada por uma trilha sonora que complementa muito bem o sentido da narrativa. Tecnicamente, não há do que se reclamar. Ainda que se possa alegar que o estilo de Guy Ritchie esteja meio manjado, não há como dizer que ele não funcione.
O contraste entre os personagens de Henry Cavill e Armie Hammer também funciona muito bem, conseguindo dar um tom cômico para a trama e uma dinâmica raramente vista neste tipo de filme (mais próxima de um Lethal Weapon do que de um James Bond). Não é à toa que boa parte dos momentos mais interessantes do filme se foca na interação entre os dois. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito dos coadjuvantes, que acabam ficando em segundo plano e devendo um pouco em questão de desenvolvimento. Os próprios vilões têm motivações pouco claras e atitudes que soam até mesmo contraditórias, dando a impressão que estão lá muito mais como uma justificativa para os protagonistas fazerem alguma coisa do que como uma ameaça real.
Porém, não é como se o filme não deixasse transparecer que não está ligando tanto assim para as questões de roteiro, empregando um esforço claramente maior em entregar uma ambientação crível e protagonistas carismáticos do que em desenvolver uma trama mais rica e instigante. A rule of cool é levada à risca por aqui e é claro que muitos dos acontecimentos do filme são pensados unicamente para gerar situações divertidas ou sequências de ação interessantes, ainda que isso eventualmente comprometa a coerência.
Apesar da minha confusão inicial, The Man from U.N.C.L.E. consegue produzir uma história autocontida e que funciona muito bem para quem está procurando este tipo de diversão descompromissada com muito mais estilo do que substância. Mesmo que não seja particularmente memorável e não traga nada de realmente novo, o resultado final é bastante competente e vale a pena ser visto por quem gosta de uma abordagem mais clássica dos filmes de espionagem, servindo muito mais como uma ‘reconstrução’ do gênero do que qualquer outra coisa.
Outras divagações:
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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