Divagações: The Walk
1.10.15
Caminhar na corda bamba não é para qualquer um. Subir em um prédio de 110 andares e olhar para baixo também não. Mas Philippe Petit (Joseph Gordon-Levitt) não somente subiu, como prendeu um arame entre as duas torres do World Trade Center e fez a travessia diversas vezes.
Essa história já foi devidamente contada no documentário Man on Wire, mas surge novamente em The Walk – agora com um formato mais agradável para o grande público. A maior diferença entre os dois filmes, contudo, está no fato de que as torres gêmeas ainda existiam quando o primeiro foi realizado. Agora, além de trazer um apaixonado pelos prédios, o filme também faz uma emocionada homenagem a um cartão postal destruído pelo terrorismo.
Mas tudo começa na França, quando Petit descobre que quer ser um equilibrista. Sem saber exatamente como viver com esse talento, ele busca conhecimento no circo, mais especificamente com Papa Rudy (Ben Kingsley). No entanto, o jovem não tem muito interesse na lona e parte para as ruas de Paris, onde encontra apoio (e amor) na também aspirante a artista Annie Allix (Charlotte Le Bon), além da amizade com o fotógrafo Jean-François (César Domboy).
Logo, ele descobre prazer em se aventurar por pontos turísticos e outros lugares insólitos, de modo que a obsessão com o World Trade Center, naquela época ainda em construção, nem parece ser tão estranha. Ao mesmo tempo, todos os envolvidos têm consciência de que a aventura é extremamente perigosa e ilegal, especialmente Jean-Pierre (James Badge Dale), Jean-Louis (Benedict Samuel) e Barry Greenhouse (Steve Valentine), que entraram no grupo já com a função de ‘cúmplices’.
Nesse contexto, a travessia entre as duas torres em um cabo de aço muda de sonho para maluquice e, finalmente, para obsessão. Philippe Petit tem alma de artista, mas até mesmo sua personalidade leve acaba afetada pela seriedade do que ele e seus amigos estão prestes a fazer. Como The Walk aposta em uma narração direta feita pelo protagonista, essas flutuações de humor acabam sendo suavizadas e o público mantém sua boa relação com o personagem (embora o ar circense que resulta dessa escolha me incomode um pouco).
É possível dizer que há muitas maneiras de se contar essa história. Ela poderia focar na tensão, na altura e na ilegalidade ou no plano em si (algo como Ocean's Eleven, que tal?), mas a decisão final do diretor e roteirista Robert Zemeckis coloca a produção entre um drama e uma aventura, transformando esse no que talvez seja o filme mais leve da temporada. Afinal, em breve, as salas de cinema estarão inundadas com longas-metragens em campanha para o Oscar.
Vale acrescentar que The Walk aposta fortemente nos efeitos especiais, não só para trazer os prédios novamente ao cenário nova-iorquino (dos anos 1970, aliás), mas para enfatizar o sonho e a loucura de seu protagonista. Embora eu acredite que a compra de ingresso para uma sessão 3D não seja essencial, ver o filme em uma sala com boa qualidade de imagem e som é bem importante.
Também recomendo atenção especial ao trabalho de Joseph Gordon-Levitt, que consegue convencer ao interpretar um francês energético e de olhos azuis (embora eu não tenha conhecimento suficiente para julgar a qualidade do sotaque). A princípio, a escalação do ator não parecia fazer muito sentido, mas é visível que ele se dedicou e fez o desafio valer a pena. É provável que não leve ao Oscar justamente pela falta de uma dramaticidade mais pesada, mas o papel poderia, pelo menos, render uma indicação.
Para quem ousa sonhar com algo impossível, para quem já se apaixonou por um grande feito arquitetônico, para quem está em busca de coragem. The Walk é para todos vocês. Basta vencer a vertigem e descobrir que há muito o que aprender quando se anda na corda bamba.
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