Divagações: Much Ado About Nothing (1993)

Adaptações de peças de William Shakespeare têm certo apelo com o público interessado em teatro, em novas adaptações e em textos cláss...

Adaptações de peças de William Shakespeare têm certo apelo com o público interessado em teatro, em novas adaptações e em textos clássicos de forma geral. Ou seja, dificilmente essas obras se tornam um sucesso de bilheteria – o que não foi exatamente o caso dessa versão de Much Ado About Nothing.

Na época de seu financiamento, o filme conseguiu arrecadar um bom dinheiro, compensando o fato de que a distribuidora Samuel Goldwyn investiu boa parte de sua verba de marketing tentando fazer com que a produção se destacasse na temporada de premiações. O melhor resultado foi uma indicação para Melhor Filme - Comédia ou Musical nos Golden Globes. A Academia só esnobou, como é de praxe com as comédias.

Aliás, há quem diga que os números positivos se devem à presença de Keanu Reeves e a uma nudez parcial, mas vamos ter fé e acreditar que a obra tem mais méritos. Com direção e roteiro de Kenneth Branagh, essa é uma adaptação relativamente fiel ao texto original. Filmado em Toscana na Itália (ao invés da Sicília), Much Ado About Nothing aposta na leveza do conteúdo e no exagero dos personagens, usando e abusando de um casal de protagonistas bem expressivo.

Beatrice (Emma Thompson) é uma moça solteira, geniosa e de uma língua ferina que (justamente por esses motivos) não tem muitas esperanças de se casar. Por sua vez, Benedick (Kenneth Branagh) é um soldado que não se cansa de anunciar todos os benefícios da vida de solteiro. Assim, ao mesmo tempo em que surge uma irresistível inimizade entre ambos, ela fica feliz e ele fica devastado com o anúncio do noivado da prima dela, Hero (Kate Beckinsale), com o melhor amigo dele, Claudio (Robert Sean Leonard). O novo casal, contudo, se junta a um amigo em comum, Don Pedro (Denzel Washington), para tentar juntar os dois rivais.

Diferentemente do que acontece na (mais recente) adaptação dirigida por Joss Whedon, essa versão de Much Ado About Nothing cria o humor não por meio dos detalhes, mas de forma bem mais direta, deixando claro o caráter ridículo dos próprios personagens. Depois de bobamente criticar o comportamento dos apaixonados, os protagonistas se tornam justamente aqueles capazes de fazer qualquer coisa pela pessoa amada, jogando palavras de amor aos quatro ventos (quase que literalmente). Assim, por mais que seja visualmente mais complexo e rico em detalhes, o filme de Kenneth Branagh traz uma natureza mais simples e singela.

Vale observar que esse é, também, um filme juvenil e veranesco. As mulheres, embora sempre de longo, vestem-se com roupas brancas e esvoaçantes. Os homens, uniformizados e encasacados, não resistem a uma comemoração que envolve água e nudez. Todos riem com frequência, são exagerados e dão preferência a conversas ao ar livre. Há muitas flores, campos verdes e uma deliciosa brisa. Resumindo: que tal uma limonada?

Much Ado About Nothing não é um filme sisudo, até mesmo porque essa não é uma história que costuma ser levada a sério. É uma comédia romântica das mais exageradas e imaturas, ainda que misturada a noções de moral e comportamento que são difíceis de trazer para as audiências atuais. É um entretenimento shakespeariano da melhor qualidade.


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