Divagações: The Peanuts Movie

Eu sou daquelas pessoas que não apenas lê as tirinhas de Charles M. Schulz , mas o faz em ordem cronológica e mantém os livros de capa dur...

Eu sou daquelas pessoas que não apenas lê as tirinhas de Charles M. Schulz, mas o faz em ordem cronológica e mantém os livros de capa dura em lugar de destaque na estante (com as miniaturas ao lado). Assim, o anúncio de The Peanuts Movie trouxe tanto alegria quanto certo desconforto. Afinal: e se fizerem algo de errado, inventarem uma trama grandiosa que não faça sentido, mudarem a essência dos personagens ou cometerem algum outro ‘crime’?

Ao mesmo tempo, o cuidado em utilizar as gravações originais de Bill Melendez para as ‘vozes’ de Snoopy e Woodstock e a presença de Bryan e Craig Schulz na equipe de roteiristas fez com que eu fosse alimentando meu entusiasmo (ainda ligeiramente em dúvida pela presença de Steve Martino na direção). E o filme é de uma simplicidade deliciosa, que dá aquela vontade de rever a qualquer momento. Não muito diferente das tirinhas.

Aliás, assim como o material original, The Peanuts Movie é repleto de momentos brilhantes. Nesse caso, todos são derivados diretamente dos filmes antigos dos personagens – especialmente A Charlie Brown Christmas, lançado exatos 50 anos antes – e, claro, também dos quadrinhos. Há quem possa acusar o material de ser derivativo e clichê, mas a verdade é que ele é um poço de nostalgia para muitos, ao mesmo tempo em que consegue ser bastante fresco para aqueles que não tem tantas referências.

Na história, Charlie Brown (Noah Schnapp) está apaixonado. Ele gostaria de se aproximar da bela garotinha ruiva (Francesca Capaldi), mas há muitos obstáculos em seu caminho – desde a própria vergonha ao dilema de impressioná-la quando todos passam a achar que ele é um gênio após tirar uma nota máxima na escola. Obviamente, Linus (Alexander Garfin) está ao seu lado, enquanto Lucy (Hadley Belle Miller) serve para minar ainda mais sua baixa autoestima. Para completar, sua irmãzinha Sally (Mariel Sheets) precisa de sua ajuda no momento mais inapropriado de todos e Peppermint Patty (Venus Schultheis) está sempre por perto.

E quanto a Snoopy? Bom, ele está acompanhando tudo isso, mas está envolvido demais com sua própria fantasia para se importar realmente.

Tudo isso é contado com um estilo de animação mais moderninho que o tradicional, o que poderia me fazer torcer o nariz (obviamente, não posso ignorar que orçamento e demandas do público são aspectos primordiais quando se decide fazer um filme). Ainda assim, existe um claro esforço em homenagear a linguagem original. Em The Peanuts Movie, os fundos são parados, a movimentação tem um charme próprio e, claro, o design cabeçudo dos personagens é inconfundível. Se você estiver se segurando para conferir por causa disso, por favor, esqueça!

Na verdade, só existe uma circunstância que me faz não recomendar o filme. Se você é um adulto que nunca foi tocado pelas tirinhas, talvez seja tarde demais para você. As crianças vão se divertir bastante tanto com as aventuras de Snoopy quanto com as desventuras de Charlie Brown. Sem contar que a produção é uma ótima forma de deixa-las curiosas por mais.

A seu próprio modo, assim como acontece com o material original, essa é uma história sobre o comportamento humano. Não é sobre um grande vilão e um herói selecionado a dedo, mas sobre um menino comum enfrentando as agruras do dia a dia. Quem nunca teve medo de uma prova, sentiu-se adorado/rejeitado pelos amigos, apaixonou-se nos tempos de colégio ou amou demais um animal de estimação com uma personalidade única que levante a mão (e eu acho que você é um ET!).

Outras divagações:
Ice Age: Continental Drift

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