Divagações: Tenki no ko

As histórias que saem da mente do cineasta Makoto Shinkai são repletas de profundidade emocional – devidamente expressas por protagonistas ...

Tenki no ko
As histórias que saem da mente do cineasta Makoto Shinkai são repletas de profundidade emocional – devidamente expressas por protagonistas adolescentes – e costumam contar com um elemento mágico misturado a algo tradicional de sua cultura. O resultado, aliado a um apreço técnico apurado, são animações belíssimas em muitos sentidos.

Tenki no ko, por exemplo, aborda justamente desta forma um tema bastante atual: as mudanças climáticas. Seu enfoque, entretanto, foge das responsabilidades reais dos homens, o que não deixa de incomodar um pouco. Em outro contexto, talvez o filme fosse encarado com mais simpatia. Ainda assim, não é como se ele não tivesse seus méritos próprios.

A princípio, a história acompanha Hodaka Morishima (Kotaro Daigo), um menino que fugiu de casa e quer tentar a vida em Tóquio. Sem documentação e com suas economias esgotando, ele acaba se segurando com todas as forças a uma última esperança: o emprego oferecido por Keisuke Suga (Shun Oguri), um cara muito suspeito, que ganha a vida escrevendo textos questionáveis sobre fenômenos sobrenaturais. Embora o salário seja baixo, Hodaka ganha comida e casa no processo, além de ter a oportunidade de trabalhar ao lado da bela Natsumi (Tsubasa Honda).

Em suas andanças pela cidade, o menino acaba cruzando com Hina Amano (Nana Mori), uma garota um pouco mais velha que ele e que alega ser capaz de parar com as constantes chuvas que assolam a cidade, ainda que em uma área limitada e por pouco tempo. Como ambos precisam de dinheiro, eles se unem para transformar a estranha habilidade de Hina em um negócio, oferecendo períodos sem chuva para garantir o sucesso de eventos, encontros familiares e coisas do gênero. Em pouco tempo, a iniciativa se transforma em um verdadeiro sucesso, mas o uso deste poder traz consequências para Hina.

Como se não bastasse a história relacionada ao poder da menina, Tenki no ko também se funda em dramas bem reais. Tanto Hina quanto Hodaka vivem situações peculiares e precisam se virar em um mundo dominado pelos adultos, lidando com responsabilidades acima de suas capacidades e sem o apoio do Estado – pelo contrário, ambos começam a ser procurados por um sistema que não parece preocupado em os entender.

Em meio a esta aventura e a momentos de desespero, dois mundos se contrastam. Lendas e culturas milenares são intercalados com a crueldade das ruas de Tóquio, ambientes familiares harmônicos levam tristeza e nostalgia para aqueles que não os possuem, chuva e sol vivem em eterna oposição. As dualidades são muitas e seus efeitos sobre os personagens nem sempre são os mesmos.

Visualmente, tudo em Tenki no ko é apresentado com uma quantidade absurda de detalhes, com ambientes meticulosamente criados e explorados, mostrando um mundo muito maior e mais envolvente. É como se a profundidade dos sentimentos ultrapassasse as barreiras físicas dos protagonistas e exacerbasse como o mundo ao redor deles é extremamente complexo. Há tantos elementos que, por alguns instantes, chego a pensar que o mundo real não é tão carregado quanto o filme e me questiono quem está representando a realidade melhor: meus sentidos ou os cenários quase fotográficos?

Em um mundo tão cinzento e detalhadamente cruel, Tenki no ko é um raio de esperança intencional e nem um pouco sutil. Embora fale do clima e das consequências do desequilíbrio, ele é menos sobre isso e mais sobre a importância de um suporte emocional.

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