Divagações: Bullet Train
3.8.22
Surpreender o público é algo que muitos cineastas almejam; para isso, eles escondem uma grande surpresa ou uma virada narrativa que desvela a verdadeira essência da obra. Porém, acredito que há certo mérito no filme que entrega perfeitamente o que prometeu, de modo que não dá nem para ficar brabo se o que ele pretendia nem era lá grande coisa. Bullet Train é um desses.
Com uma batida de olho nos trailers, você já vê do que se trata. É um filme de ação e comédia com Brad Pitt, com uma estética neon, com personagens excêntricos, com diálogos engraçadinhos e que se passa em um trem japonês. Voilá! O filme é isso mesmo, sem tirar nem pôr – e é você quem sabe se isso tem algum apelo com você.
Baseado em um romance de Kôtarô Isaka e dirigido por David Leitch (que fez sua carreira como dublê e diretor de ação, e é um parceiro de longa data de Pitt nesse campo), Bullet Train acompanha uma série de assassinos e profissionais do submundo. Cada um tem suas próprias razões, mas todos se encontram em uma viagem de trem entre Tóquio e Quioto.
Ladybug (Brad Pitt) é um assassino competente, porém absolutamente azarado, que tem como missão recuperar uma maleta misteriosa. A dupla Lemon (Brian Tyree Henry) e Tangerine (Aaron Taylor-Johnson) é formada por dois “gêmeos” que acabaram de salvar o filho de um poderoso chefe da máfia e agora precisam retornar com o dinheiro do resgate. Kimura (Andrew Koji) é um yakuza que vai até o trem buscando encontrar o culpado por uma tentativa de assassinato contra o seu filho. E a misteriosa Prince (Joey King), apesar da aparência inocente, está tentando se aproveitar do caos para matar o já citado chefe da máfia.
Assim, Bullet Train herda muito dos trabalhos anteriores de Leitch. A produção dá atenção especial à coreografia de ação, que é extremamente agradável aos olhos, e que puxa muito mais das acrobacias de Deadpool 2 (o personagem de Pitt, inclusive, é quase um anti-Domino) do que do realismo mais pesado de Atomic Blonde, conseguindo misturar bem lutas corpo a corpo e tiroteios. Eu sou meio parcial nesse sentido, porque sempre acho legal ver um diretor que entende de ação podendo se soltar, especialmente quando quase todos os filmes de heróis que dominam os cinemas têm um trabalho de coreografia pobre e confuso.
O longa-metragem também tenta fazer algumas coisas diferentes com suas sequências, misturando as histórias paralelas desses vários assassinos com flashbacks não lineares. O objetivo é tanto desenvolver os personagens quanto tentar vender aquele mundo como algo maior do que o que vemos na tela, algo que o filme faz com diferentes graus de sucesso e sutileza. O maior exemplo positivo disso é com Aaron Taylor-Johnson e Brian Tyree Henry, que roubam a cena toda vez que aparecem, chegando a ter mais desenvolvimento dramático que o suposto protagonista, por mais que Brad Pitt funcione muito bem como um papel mais cômico.
Mas há momentos em que Leitch erra a mão? Na verdade, esse é mais um caso de muito estilo para pouca substância. Os diálogos e a montagem tentam desesperadamente ser mais inteligentes ou sagazes do que realmente são, buscando um quê de Tarantino ou de Guy Ritchie sem exatamente chegar lá. Não que isso seja um grande problema quando o filme tem ação descerebrada o bastante e é divertido o suficiente para se segurar a despeito dessa aparente falta de brilhantismo e identidade.
A produção ainda tem outros problemas, como a representação do Japão que beira um orientalismo caricatural. Apesar de não ser abertamente preconceituoso, o filme foca demais no exotismo e na estranheza – um pecado recorrente em Hollywood, especialmente em adaptações de obras japonesas com personagens japoneses.
Para completar, o roteiro, que se segura o tempo todo por um fio, descarrila em um terceiro ato rocambolesco e perde um pouco do fôlego que tornou o início do filme tão legal. Além disso, ainda que exista uma resolução para todos os “mistérios” da história, sinto que a experiência mais contida dos primeiros dois atos já era mais do que satisfatória por si só.
Apesar de tudo, devo dizer que gostei do que eu vi. Sim, Bullet Train tinha os ingredientes necessários para ser mais do que é, como um ótimo elenco e boas ideias, mas ele pode ser empolgante se você o encarar sem muitas pretensões. Como já disse lá no início, o filme sabe o que quer ser e entrega exatamente o que promete, satisfazendo minha necessidade de ver algo empolgante e comicamente ultraviolento. Se isso é algo que interessa para você, pegue um balde de pipoca e se prepare para não pensar muito a respeito. Garanto que serão duas horas bastante divertidas.
Outras divagações:
Atomic Blonde
Deadpool 2
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
Com uma batida de olho nos trailers, você já vê do que se trata. É um filme de ação e comédia com Brad Pitt, com uma estética neon, com personagens excêntricos, com diálogos engraçadinhos e que se passa em um trem japonês. Voilá! O filme é isso mesmo, sem tirar nem pôr – e é você quem sabe se isso tem algum apelo com você.
Baseado em um romance de Kôtarô Isaka e dirigido por David Leitch (que fez sua carreira como dublê e diretor de ação, e é um parceiro de longa data de Pitt nesse campo), Bullet Train acompanha uma série de assassinos e profissionais do submundo. Cada um tem suas próprias razões, mas todos se encontram em uma viagem de trem entre Tóquio e Quioto.
Ladybug (Brad Pitt) é um assassino competente, porém absolutamente azarado, que tem como missão recuperar uma maleta misteriosa. A dupla Lemon (Brian Tyree Henry) e Tangerine (Aaron Taylor-Johnson) é formada por dois “gêmeos” que acabaram de salvar o filho de um poderoso chefe da máfia e agora precisam retornar com o dinheiro do resgate. Kimura (Andrew Koji) é um yakuza que vai até o trem buscando encontrar o culpado por uma tentativa de assassinato contra o seu filho. E a misteriosa Prince (Joey King), apesar da aparência inocente, está tentando se aproveitar do caos para matar o já citado chefe da máfia.
Assim, Bullet Train herda muito dos trabalhos anteriores de Leitch. A produção dá atenção especial à coreografia de ação, que é extremamente agradável aos olhos, e que puxa muito mais das acrobacias de Deadpool 2 (o personagem de Pitt, inclusive, é quase um anti-Domino) do que do realismo mais pesado de Atomic Blonde, conseguindo misturar bem lutas corpo a corpo e tiroteios. Eu sou meio parcial nesse sentido, porque sempre acho legal ver um diretor que entende de ação podendo se soltar, especialmente quando quase todos os filmes de heróis que dominam os cinemas têm um trabalho de coreografia pobre e confuso.
O longa-metragem também tenta fazer algumas coisas diferentes com suas sequências, misturando as histórias paralelas desses vários assassinos com flashbacks não lineares. O objetivo é tanto desenvolver os personagens quanto tentar vender aquele mundo como algo maior do que o que vemos na tela, algo que o filme faz com diferentes graus de sucesso e sutileza. O maior exemplo positivo disso é com Aaron Taylor-Johnson e Brian Tyree Henry, que roubam a cena toda vez que aparecem, chegando a ter mais desenvolvimento dramático que o suposto protagonista, por mais que Brad Pitt funcione muito bem como um papel mais cômico.
Mas há momentos em que Leitch erra a mão? Na verdade, esse é mais um caso de muito estilo para pouca substância. Os diálogos e a montagem tentam desesperadamente ser mais inteligentes ou sagazes do que realmente são, buscando um quê de Tarantino ou de Guy Ritchie sem exatamente chegar lá. Não que isso seja um grande problema quando o filme tem ação descerebrada o bastante e é divertido o suficiente para se segurar a despeito dessa aparente falta de brilhantismo e identidade.
A produção ainda tem outros problemas, como a representação do Japão que beira um orientalismo caricatural. Apesar de não ser abertamente preconceituoso, o filme foca demais no exotismo e na estranheza – um pecado recorrente em Hollywood, especialmente em adaptações de obras japonesas com personagens japoneses.
Para completar, o roteiro, que se segura o tempo todo por um fio, descarrila em um terceiro ato rocambolesco e perde um pouco do fôlego que tornou o início do filme tão legal. Além disso, ainda que exista uma resolução para todos os “mistérios” da história, sinto que a experiência mais contida dos primeiros dois atos já era mais do que satisfatória por si só.
Apesar de tudo, devo dizer que gostei do que eu vi. Sim, Bullet Train tinha os ingredientes necessários para ser mais do que é, como um ótimo elenco e boas ideias, mas ele pode ser empolgante se você o encarar sem muitas pretensões. Como já disse lá no início, o filme sabe o que quer ser e entrega exatamente o que promete, satisfazendo minha necessidade de ver algo empolgante e comicamente ultraviolento. Se isso é algo que interessa para você, pegue um balde de pipoca e se prepare para não pensar muito a respeito. Garanto que serão duas horas bastante divertidas.
Outras divagações:
Atomic Blonde
Deadpool 2
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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