Divagações: Gladiator II
13.11.24
No início dos anos 2000, houve especulações a respeito de uma continuação para Gladiator. A despeito das impossibilidades narrativas de continuar a história de Maximus Meridius, Hollywood sempre dá um jeito. Inclusive, é possível encontrar pela internet um roteiro absolutamente insano, que termina com o protagonista se tornando um guerreiro imortal que luta em guerras até os dias de hoje.
Essa história foi (felizmente) engavetada pelo estúdio. Mas isso não impediu que, mais de 20 anos depois, fosse dado o sinal verde para uma continuação que se propunha a ser algo muito mais geracional do que uma sequência direta de seu antecessor.
O detalhe é que, no momento, Ridley Scott não está com essa bola toda. Apesar de seu papel fundamental na história do cinema moderno, recentemente faltam sucessos do mesmo calibre de suas obras mais seminais. Com isso, não senti um grande otimismo em relação a Gladiator II, especialmente entre aqueles que têm apreço pelo filme original e que questionam se algo realmente bom poderia surgir da nova produção.
Em Gladiator II, vemos uma Roma quase duas décadas após a morte de Maximus. Controlada pelos imperadores gêmeos Geta (Joseph Quinn) e Caracalla (Fred Hechinger), a cidade se afunda em corrupção, travando guerras de conquista para sustentar os excessos da elite romana.
Uma dessas guerras, pela dominação da Namíbia, leva o general Acacius (Pedro Pascal) a se confrontar com um soldado a serviço da nação “bárbara”, Hanno (Paul Mescal). Derrotado pelas legiões romanas, Hanno é vendido como escravo, tornando-se um gladiador a serviço de Macrinus (Denzel Washington), um mercador ambicioso e com pretensões de poder, que promete vingança contra Acacius se ele sobreviver aos jogos.
Assim, Gladiator II não tenta reinventar a roda e entrega exatamente o que se espera: cenas de ação, uma reconstrução de época interessante e o mínimo necessário de pathos para sustentar a sua história. No entanto, falta o magnetismo que fez com que o primeiro seja um clássico, parecendo uma imitação pálida.
Paul Mescal tem alguns momentos interessantes, mas não alcança o mesmo impacto de Russell Crowe e raramente exibe a mesma presença de Maximus. Denzel Washington talvez seja o maior destaque do filme, sendo o único a ter mais espaço para mostrar a que veio, com um personagem que possui um arco dramático completo e motivações bem definidas. E, dentro dessa dinâmica, quem mais sofre é Pedro Pascal, que é pouco aproveitado pela trama.
Com um roteiro um tanto apressado, Gladiator II não parece ter as duas horas e meia que tem, para o bem ou para o mal. A história avança continuamente, sem momentos de tédio, mas isso implica que algumas cenas estão faltando e que o drama não tem tempo para respirar, fazendo com que as transformações dos personagens pareçam abruptas. Isso é especialmente problemático com Hanno, apresentado como um líder carismático dos gladiadores, mas que pouco faz para merecer essa posição e que tem uma série de mudanças de comportamento mal justificadas.
Por sua vez, a ação é competente e visceral, ainda que sofra com alguns momentos de computação gráfica de qualidade questionável, especialmente em relação aos animais. As coreografias das lutas são apenas razoáveis, sem nenhuma sequência de combate realmente excepcional.
Já a trilha sonora, que no filme de 2000 foi assinada por Hans Zimmer e Lisa Gerrard, agora está a cargo de Harry Gregson-Williams. O compositor tem trabalhado com Ridley Scott há alguns anos, mas não atinge a mesma potência ou a capacidade de intensificar os momentos mais emocionantes do filme. Sinceramente, mal lembro das músicas.
Ou seja, mesmo com uma história que segue de perto as batidas narrativas do filme original, Gladiator II nunca alcança as mesmas alturas. Apesar disso, ele consegue ser competente, o que é mais do que muita gente esperava, considerando que se trata de mais uma continuação que ninguém pediu e que parece ter pouco a dizer.
Eu me diverti com o filme e reconheço suas qualidades, mas também sei que ele está longe de ser algo especial. A falta de riscos criativos me faz pensar que talvez ver um Maximus imortal lutando no Vietnã fosse um resultado mais interessante do que tentar trilhar a mesma história. Gladiator II é uma boa desculpa para ir ao cinema, mas, se você espera por algo à altura do primeiro filme, é melhor reduzir as expectativas.
Outras divagações:
Alien
Blade Runner
Prometheus
The Martian
Alien: Covenant
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
Essa história foi (felizmente) engavetada pelo estúdio. Mas isso não impediu que, mais de 20 anos depois, fosse dado o sinal verde para uma continuação que se propunha a ser algo muito mais geracional do que uma sequência direta de seu antecessor.
O detalhe é que, no momento, Ridley Scott não está com essa bola toda. Apesar de seu papel fundamental na história do cinema moderno, recentemente faltam sucessos do mesmo calibre de suas obras mais seminais. Com isso, não senti um grande otimismo em relação a Gladiator II, especialmente entre aqueles que têm apreço pelo filme original e que questionam se algo realmente bom poderia surgir da nova produção.
Em Gladiator II, vemos uma Roma quase duas décadas após a morte de Maximus. Controlada pelos imperadores gêmeos Geta (Joseph Quinn) e Caracalla (Fred Hechinger), a cidade se afunda em corrupção, travando guerras de conquista para sustentar os excessos da elite romana.
Uma dessas guerras, pela dominação da Namíbia, leva o general Acacius (Pedro Pascal) a se confrontar com um soldado a serviço da nação “bárbara”, Hanno (Paul Mescal). Derrotado pelas legiões romanas, Hanno é vendido como escravo, tornando-se um gladiador a serviço de Macrinus (Denzel Washington), um mercador ambicioso e com pretensões de poder, que promete vingança contra Acacius se ele sobreviver aos jogos.
Assim, Gladiator II não tenta reinventar a roda e entrega exatamente o que se espera: cenas de ação, uma reconstrução de época interessante e o mínimo necessário de pathos para sustentar a sua história. No entanto, falta o magnetismo que fez com que o primeiro seja um clássico, parecendo uma imitação pálida.
Paul Mescal tem alguns momentos interessantes, mas não alcança o mesmo impacto de Russell Crowe e raramente exibe a mesma presença de Maximus. Denzel Washington talvez seja o maior destaque do filme, sendo o único a ter mais espaço para mostrar a que veio, com um personagem que possui um arco dramático completo e motivações bem definidas. E, dentro dessa dinâmica, quem mais sofre é Pedro Pascal, que é pouco aproveitado pela trama.
Com um roteiro um tanto apressado, Gladiator II não parece ter as duas horas e meia que tem, para o bem ou para o mal. A história avança continuamente, sem momentos de tédio, mas isso implica que algumas cenas estão faltando e que o drama não tem tempo para respirar, fazendo com que as transformações dos personagens pareçam abruptas. Isso é especialmente problemático com Hanno, apresentado como um líder carismático dos gladiadores, mas que pouco faz para merecer essa posição e que tem uma série de mudanças de comportamento mal justificadas.
Por sua vez, a ação é competente e visceral, ainda que sofra com alguns momentos de computação gráfica de qualidade questionável, especialmente em relação aos animais. As coreografias das lutas são apenas razoáveis, sem nenhuma sequência de combate realmente excepcional.
Já a trilha sonora, que no filme de 2000 foi assinada por Hans Zimmer e Lisa Gerrard, agora está a cargo de Harry Gregson-Williams. O compositor tem trabalhado com Ridley Scott há alguns anos, mas não atinge a mesma potência ou a capacidade de intensificar os momentos mais emocionantes do filme. Sinceramente, mal lembro das músicas.
Ou seja, mesmo com uma história que segue de perto as batidas narrativas do filme original, Gladiator II nunca alcança as mesmas alturas. Apesar disso, ele consegue ser competente, o que é mais do que muita gente esperava, considerando que se trata de mais uma continuação que ninguém pediu e que parece ter pouco a dizer.
Eu me diverti com o filme e reconheço suas qualidades, mas também sei que ele está longe de ser algo especial. A falta de riscos criativos me faz pensar que talvez ver um Maximus imortal lutando no Vietnã fosse um resultado mais interessante do que tentar trilhar a mesma história. Gladiator II é uma boa desculpa para ir ao cinema, mas, se você espera por algo à altura do primeiro filme, é melhor reduzir as expectativas.
Outras divagações:
Alien
Blade Runner
Prometheus
The Martian
Alien: Covenant
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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