Divagações: Nosferatu

Ir a cabines de imprensa tem vantagens e desvantagens; e, neste caso, houve um benefício quase acidental. Afinal, é uma pena que o lançament...

Nosferatu
Ir a cabines de imprensa tem vantagens e desvantagens; e, neste caso, houve um benefício quase acidental. Afinal, é uma pena que o lançamento oficial de Nosferatu no Brasil seja apenas em janeiro, uma vez que a história se passa nos dias que antecedem o Natal. Sim, é um terror natalino (mas sem luzinhas, pois não há eletricidade). Para ser melhor, só faltou uma sessão à meia-noite e um clima invernal (não se pode ter tudo).

Passado na Alemanha em 1838, Nosferatu é um deleite gótico em um início de era vitoriana. Os castelos têm grande participação – e as filmagens foram feitas em locais reais, na Romênia e na República Tcheca –, sendo complementados por figurinos maravilhosos, por uma fotografia de altos contrastes (e muitas sombras) e por uma maquiagem bem pensada. Ou seja, visualmente, a produção é tudo o que você poderia esperar.

Na trama, Ellen Hutter (Lily-Rose Depp) é uma jovem recém-casada que possui um histórico de “melancolia”. O diagnóstico, obviamente, é um eufemismo muito ruim para explicar que ela tem sonhos assustadores, sonambulismo, convulsões e por aí vai. Assim, o que ela realmente tem é uma conexão natural com “o outro lado”, o que acaba atraindo o interesse de uma criatura amaldiçoada.

As coisas começam a sair da esfera dos sonhos e a invadir a realidade quando o noivo Thomas Hutter (Nicholas Hoult) recebe a missão de vender uma mansão em ruínas para o conde Orlok (Bill Skarsgård). O negócio já foi acertado pelo chefe do rapaz, Knock (Simon McBurney), mas ele ainda precisa fazer uma longa viagem para que os papeis sejam devidamente assinados.

Durante a ausência do marido, a delicada Ellen fica sob os cuidados de um casal de amigos, o bem-sucedido Friedrich Harding (Aaron Taylor-Johnson) e sua doce, fiel e religiosa esposa, Anna (Emma Corrin). Assim, quando Thomas demora mais que o esperado para voltar e a saúde da jovem fica comprometida, eles chamam o médico local, Wilhelm Sievers (Ralph Ineson), que eventualmente apela para os conhecimentos do excêntrico Albin Eberhart von Franz (Willem Dafoe). Para completar, a peste bubônica chega à cidade.

Assim, com uma história relativamente simples, o que Nosferatu faz é explorar a relação entre os personagens diante de circunstâncias macabras e de muito desconhecimento. Sinceramente, a incerteza, a impotência e o mistério são realmente muito assustadores – e já sabemos que o roteirista e diretor Robert Eggers é capaz de lidar muito bem com esses elementos. De maneira geral, o filme constrói poucas cenas de susto, mas aposta em um clima de tensão e pavor constantes.

O único problema acontece quando as sequências se alongam um pouco demais e a voz gutural de Skarsgård começa a perder o efeito desejado, por exemplo. Além disso, com mais de duas horas de duração, Nosferatu não consegue segurar o efeito de manter seu vilão às sombras por muito tempo e, por mais que a maquiagem seja boa em ser horrível, o pavor inicial não gera efeitos tão prolongados assim. Mas faço a ressalva de que eu tenho dificuldades em lidar com obras de terror (vulgo: não consigo mergulhar muito bem no universo e acabo achando tudo engraçado).

Dito isso, é preciso completar que o elenco se entregou ao material. Lily-Rose Depp não precisou de efeitos especiais para suas cenas de contorção e tremedeira; Bill Skarsgård caprichou no trabalho de voz; e os demais estão perfeitamente convincentes dentro daquele universo, alternando entre incredulidade, horror e indignação.

Em resumo, Nosferatu é um filme muito bem produzido e que consegue convencer, mesmo com uma história que já foi contada e recontada tantas vezes. Para quem aprecia o terror gótico e/ou filmes que não apelam (constantemente) para sustos fáceis e gritos, acredito que esse é um lançamento a muito aguardado.

Outras divagações:

The VVitch: A New-England Folktale

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