Divagações: Crazy Heart

Crazy Heart é uma história de amor. É também um membro do clube dos bons filmes que são pouco vistos. Aqui em Curitiba, pelo menos, estreou...

Crazy Heart é uma história de amor. É também um membro do clube dos bons filmes que são pouco vistos. Aqui em Curitiba, pelo menos, estreou em poucos cinema e ficou algumas míseras semanas em cartaz. Quando resolvi ir assistir, já tinha perdido (ok, marquei bobeira, eu sei).

Ao contrário do que muitos pensam, o filme não é uma cinebiografia. O personagem principal, Bad Blake (Jeff Bridges), é baseado em três cantores norte-americanos de música country. Mesmo assim, o filme mantém o estilo de alguns “baseados em fatos reais” que temos visto (como The Wrestler), mas com a vantagem de contar um período bastante específico e íntimo da vida do personagem, algo que – provavelmente – não estaria em uma biografia.

No filme, Bad Blake não está em uma boa fase da carreira. Está fazendo apresentações em bares, casas noturnas e até boliches, além disso, tem um problema com o excesso de bebida que prejudica seu trabalho e as relações com as pessoas. Seu público se resume a uns poucos fãs fiéis e os jovens não o conhecem. Até mesmo seu pupilo musical Tommy Sweet (Colin Farrell) se tornou uma espécie de rival. Ainda assim, enquanto passa por Santa Fé, uma jovem repórter da área da música decide entrevistá-lo. Jean Craddock (Maggie Gyllenhaal, magérrima) é jovem, inteligente e tem um filho pequeno – a coisa mais importante de seu mundo. Os dois vivem um romance improvável que faz Blake repensar certos aspectos de sua vida.

Os detalhes cotidianos dessa história de amor, a música, o amor de mãe, o amor de homem, o ciúme, a decepção, o carinho, o perdão, a maturidade, tudo isso (não necessariamente nessa ordem) faz de Crazy Heart um ótimo filme. É o tipo de história que – por mais que você esteja com alguém – vai tocar somente a você daquela maneira. É uma experiência individual, quase íntima, capaz de afetar de um modo que só o cinema é capaz.

O elenco segue os rumos de seus personagens com suavidade e naturalidade, sem forçar resoluções, como se apenas deixassem a vida seguir. O roteiro delicado e a direção natural de Scott Cooper ajudam nessa missão. O objetivo não é, realmente, atrair um grande público, mas fazer um bom filme. Como consequência natural desse tipo de trabalho, Crazy Heart merece ser visto. Provavelmente há gente que diga que o filme é cansativo, lento, ou algum desses adjetivos que usam para reclamar de filmes sensíveis. Para essas pessoas, respondo: quando você estiver pronto, tente novamente. Não que eu seja um exemplo de maturidade e espírito artístico, apenas aprecio um cinema feito do jeito certo.

Por mais que Crazy Heart venha do mesmo lugar que Walk the Line, Ray, The Wrestler e tantas outras histórias contadas recentemente e com temas similares, o filme consegue sua posição – onde há espaço para muitas comparações, mas ninguém chega a brigar. É um filme sensível, capaz de sobreviver a modismos. Talvez continue sendo pouco visto, mas vai ser adorado a cada descoberta.

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