Divagações: Gulliver’s Travels

Não sei de onde tiraram esta ideia absurda de que Gulliver's Travels é uma história para crianças. Esse é o tipo de raciocínio que se r...

Não sei de onde tiraram esta ideia absurda de que Gulliver's Travels é uma história para crianças. Esse é o tipo de raciocínio que se reflete em praticamente todas as adaptações já feitas para o cinema e para a televisão até hoje. Fico muito chateado com a ausência de uma versão da história que faça jus a sátira política complexa que Jonathan Swift escreveu. Mas não me entendam mal, não é como se eu estivesse procurando isso nessa nova filmagem de Gulliver's Travels, afinal de contas, o que poderíamos esperar de um filme onde Jack Black é o protagonista?

Quer dizer, gostando ou não de Black, convenhamos que ele repete o mesmo papel em todos os filmes que participa. Sempre retratando aquele sujeito meio imaturo e inconveniente, que no fundo tem um bom coração. Essa característica transforma todos os filmes onde Jack Black está em um filme de Jack Black, sem espaço para muitas surpresas ou para roteiros geniais. E temo dizer que é exatamente isto que encontramos em Gulliver's Travels, um filme simplista e ingênuo onde desde o início você já sabe como tudo vai terminar (o que certamente faria Swift se debater no túmulo).

Com uma ambientação bem mais moderna do que o conto clássico, Gulliver's Travels conta (reconta?) a história de Lemuel Gulliver (Jack Black), um sujeito fracassado e medroso, conformado com a sua vida como chefe da expedição de um grande jornal em Nova York. Ao tentar impressionar seu interesse romântico, Darcy Silverman (Amanda Peet), editora de viagens deste mesmo jornal, Gulliver embarca em uma viagem para descobrir o segredo do triângulo das bermudas. Não é preciso dizer que a viagem dá errado e Gulliver é transportado para Liliput, uma terra estranha onde todos seus habitantes medem menos de um palmo (e são ótimos construtores!). Nesse lugar ele terá que lidar com a inveja do general Edward (Chris O'Dowd) e a amizade inesperada de Horatio (Jason Segel), além de aprender um pouco mais sobre coragem, amizade e todos aqueles valores que inevitavelmente você espera ver em um filme para toda a família.

Infelizmente, acabei vendo o filme dublado e em 2D, o que sem dúvida estragou um pouco da experiência do filme, pois muita da graça de Black está nas caras, bocas, e trejeitos próprios do ator, o que a dublagem falha um pouco em passar. Visualmente (principalmente em um filme que é 90% CGI), Gulliver's Travels não impressiona muito, tendo algumas interações um pouco falhas na escala entre Black e o resto do elenco. Pelo que observei, não acho que o 3D mudaria muito a situação, pois não foram muitos os momentos onde se via que o efeito poderia impressionar a plateia (ao contrario de Despicable Me, um filme que me arrependo muito de ter visto em duas dimensões), talvez saísse de lá como sai de Tron: Legacy, com aquela impressão de que o ingresso mais caro não teria valido a pena.

Ao mesmo tempo e ao contrário do que poderia se pensar, o filme não é absolutamente sem graça ou escatológico. Bobo, talvez? Mas com alguns bons momentos e diálogos que ainda refletem a crítica política original aos modos aristocraticamente exagerados da nobreza inglesa. A transformação da aristocrática Liliput em uma grande sociedade de consumo baseada na figura de Gulliver também vale algumas risadas (sobretudo pelo caminhão de referências a cultura pop encenados pelo próprio Jack Black), mas não se pode negar que é uma trama excessivamente simplista para aqueles que por acaso entenderiam estas referências. Arrisco dizer que as pessoas que irão gostar do filme são justamente aquelas que não vão pescar todos os easter eggs presentes nele.

Sinto que Gulliver's Travels é um filme que poderia ter dado certo. Se fosse um pouco mais cáustico e menos preocupado em ser adequado para toda a família, talvez conseguisse herdar um pouco do espírito satírico do original. Ao invés disso, a única coisa que restou para Gulliver's Travels foi se tornar uma comédia de férias tola e dispensável, que mais envergonha o espectador do que o faz rir.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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3 recados

  1. Parabéns pela dobradinha, casal!
    Gostei do texto, mas acho que
    assistirei o filme só quando
    passar na TV; prefiro encarar
    o livro!

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  2. O livro, sem dúvida, é uma pedida melhor para quem busca por conteúdo.

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  3. Porra brother,Jack Black é um ótimo ator,e esse filme também é muito bom,por isso que eu odeio criticos

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