Divagações: Black Swan

Sem dúvida, um dos filmes mais aguardados do ano. Mas como definir Black Swan ? Poesia, suspense, terror, fábula, metáfora, retrato, pintura...

Sem dúvida, um dos filmes mais aguardados do ano. Mas como definir Black Swan? Poesia, suspense, terror, fábula, metáfora, retrato, pintura, pressão? Tudo isso ou nada disso ou as duas coisas ao mesmo tempo? Não sei. Só sei que é Natalie Portman do início ao fim. A câmera está grudada nela durante praticamente todo o filme. Se um filme pode ser arte, então Black Swan é arte e a artista é ela. Por mais que seja a visão criativa do diretor Darren Aronofsky – e feita sobre um roteiro criado por outros –, ainda assim, é Natalie Portman quem se entrega a esse desvario e faz a sua arte aparecer. É tão dela que poderia nem ser um filme, apenas Natalie contando uma história sem efeitos especiais, sem música, sem maquiagem, sem outros recursos. Continuaria bom.

Será? Embora eu tenha ficado fascinada, acredito que muitos ficarão definitivamente decepcionados – e com razão. Mas para explicar isso, preciso contar um pouco sobre como é a história do filme.

Natalie Portman é Nina Sayers, uma bailarina que acaba de conquistar seu primeiro papel importante, mas que todos consideram um desafio grande demais para ela. Desde o momento em que começou a ser testada, ela começou a sentir a pressão do que aquilo significaria e sua falta de experiência com o mundo a tornam ainda mais vulnerável à influência de pessoas como Beth Macintyre (Winona Ryder), sua revoltada antecessora; Thomas Leroy (Vincent Cassel), seu misterioso diretor; e, principalmente, Lily (Mila Kunis), a sedutora nova bailarina da companhia. Claro que sua mãe opressora (Barbara Hershey), por mais que tente, também não ajuda muito na nova situação.

Nesse contexto, Nina é levada para lugares obscuros de sua própria mente, em uma tentativa desesperada de dar ao papel tudo o que ele precisa para parecer verdadeiro, ao mesmo tempo em que precisa se manter inteira para não ser engolida por ele ou por aqueles que ela acredita serem seus rivais. Com o tempo, fica difícil distinguir entre o que é real e o que não é, especialmente depois que o espetáculo começa e é chegada a hora de Nina provar se seu percurso de dor e sofrimento realmente valeu a pena.

Suponho que toda essa questão psicológica – incluindo o modo de lidar com a pressão, com desafios e com desejos reprimidos – ainda será muito discutida. Até que ponto Lily é real? Até onde a mente humana consegue ir? Do que um ator dominado por seu papel é capaz? O problema é que muita gente simplesmente não vai conseguir embarcar nessas questões. O suspense talvez seja fraco. Além disso, a forma como aquele sentimento domina a protagonista, mostrado de maneira tão física, pode causar estranhamento e até a sensação de filme de terror antigo ou amador. Explico: onde mais você vê pessoas se transformando em animais? Mesmo que seja bem feito, nunca será perfeito, pois simplesmente não é natural, não é realístico – e estamos muito mal acostumados a buscar realismo na ficção.

Ainda assim, Natalie Portman encarna Nina e seus problemas, seus medos, suas frustrações e suas vontades. Ela mostra toda a paixão da bailarina pela história da moça transformada em cisne que precisa ser amada para voltar a ser humana, mas que é traída por um cisne negro que, por magia, rouba seu príncipe. Curiosamente, Nina não tem dificuldade em encarnar o belo cisne branco – o que ela precisa é descobrir onde está sua própria escuridão. Justamente o contrário do que normalmente esperamos e mais um motivo para opiniões desfavoráveis ao filme. Black Swan não é um filme sobre busca, mas um filme sobre perda. Não há redenção, mas um envolvimento crescente que culmina... Em algo sublime (e em uma vontade gigantesca de contar o final do filme).

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1 recados

  1. Re, eu fiquei com uma forte impressão de que o diretor escolheu os atores de acordo com a própria personalidade e estilo de vida deles. Pensa só: Winona é a musa que está em plena decadência, e Natalie, a sonsa monga em quem a gente não leva muita fé. O que vc acha?

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