Divagações: Burlesque

Sinceramente, fui ver Burlesque me achando a única pessoa na face da Terra com vontade de assistir o filme. Não aquela vontade tediosa e pr...

Sinceramente, fui ver Burlesque me achando a única pessoa na face da Terra com vontade de assistir o filme. Não aquela vontade tediosa e praticamente unânime da crítica de ir ao cinema só para poder dizer que havia sido uma bomba. Mas, talvez, um sentimento mais saudável de que dali poderia sair algo, ao menos divertido. É claro que em momento algum tive esperanças que este seria um filme incrível e instigante, mas, afinal de contas, não poderia ser tão ruim, poderia?

Sei que tudo conspirava a favor da primeira alternativa, o elenco era encabeçado por uma cantora em seu debut no mundo do cinema (terreno onde outras como Britney Spears e Mariah Carey já haviam fracassado). Já se esperava do roteiro algo batido e insípido e a estética de cabaré, convenhamos, não consegue agradar a todos. Resumindo, Burlesque tinha tudo para dar tremendamente errado.

Felizmente, temo dizer que aqueles que esperavam um desastre de proporções épicas acabaram se enganando redondamente. Burlesque, apesar das falhas – que não são poucas – é um filme tolerável e algumas vezes bastante divertido.

A história, devo admitir, não é muito profunda e tampouco original. É aquele tipo de coisa que vocês já devem ter visto muitas e muitas vezes. Ali (Christina Aguilera) é a típica garota do interior que parte para Los Angeles para realizar seus sonhos de sucesso e fama. Lá, ela acaba encontrando o Burlesque Lounge, um cabaré como os de antigamente, um verdadeiro anacronismo na pulsante LA, mas nem por isso isento de dificuldades financeiras. Ofuscada pelo ambiente do local, Ali decide trabalhar lá a todo custo, mesmo com a inicial discordância de Tess (Cher), a dona do estabelecimento. Ali se mostra talentosa e determinada e sua voz abre caminho para a fama dentro do Burlesque, para inveja de dançarinas rivais como Nikki (Kirsten Bell) e para o encanto do barman e músico Jack (Cam Gigandet), o óbvio par romântico de Aguilera.

Mas o que falta em originalidade sobra na empolgação e no ótimo visual do filme. A cenografia e fotografia são excelentes, abusando dos contrastes e dos tons de claro e escuro, mesmo que em certos momentos incomodem por serem um pouco plásticas demais. Acho até mesmo que o exagero é proposital e só reforça o clima de espetáculo que o filme carrega em todos os seus detalhes. Os figurinos são caprichados, apesar do quase nulo tempo dedicado a eles. Os números musicais, carro chefe da película, não são lá muito memoráveis, porém estão muito bem executados e coreografados, passando uma aura de sedução sem serem vulgares. Burlesque tem o mérito de entender que às vezes esconder é bem mais interessante do que mostrar.

Por outro lado, é perceptível que o filme se perde em alguns momentos, se embrenhando em cenas que não levam a lugar nenhum e se estendendo muito mais do que era preciso em suas duas horas. Afinal, com um enredo altamente previsível como este, era possível aparar algumas arestas em busca de um resultado mais fluido. Até mesmo a alardeada musica da Cher, "You Haven't Seen the Last of Me", tão cogitada para o Oscar, pouco acrescenta para o clima do filme ou para o enredo, apesar de interessante. Aliás, mesmo que a cantora e atriz se redima em com alguns bons momentos – sobretudo na química em cena com o competentíssimo Stanley Tucci que interpreta Sean, o amigo gay de Tess. Aguilera, por sua vez, e apesar da pouca experiência com filmes, consegue manter uma atuação sólida, que não chega a incomodar ninguém. Sua intimidade com a música e sua voz potente acrescentam muito a personagem, que basicamente é uma versão mais jovem e ingênua de si mesma.

Apesar de tudo, Burlesque não é merecedor de criticas tão pesadas como a maioria gostaria de tecer. Seus pontos positivos claramente superam alguns de seus defeitos mais flagrantes. Mesmo sendo um tanto pueril e mediano em diversos aspectos, o filme consegue cumprir com folga aquilo que prometeu desde o início: Ser um filme divertido e sem muitas pretensões, repleto de música, romance e sensualidade. Daqueles que, mesmo não nos fazendo pensar, conseguem arrancar alguns sorrisos e nos contagiar com a energia da música e da dança, nos fazendo sair do cinema cantarolando. Deste modo, posso dizer que Burlesque não é um filme espetacular, mas é, sem dúvida, um grande espetáculo – mesmo que apesar no sentido mais mundano do termo.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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