Divagações: The Fighter
14.2.11Depois de The Wrestler (que virou O Lutador) veio The Fighter (que se tornou O Vencedor). O que vai acontecer com as pessoas que dão o nome em português para os filmes se agora filmarem The Winner? Ainda bem que temos uma língua cheia de sinônimos para resolver esse último problema. O que não muda o fato que O Vencedor não é exatamente o título mais adequado para The Fighter, até porque ele perde bastante.
O filme conta a história do início de carreira do boxeador Micky Ward (Mark Wahlberg), irmão do ex-boxeador Dicky Eklund (Christian Bale), que se tornou seu técnico. O problema é que Eklund é viciado em crack, o que prejudica bastante os treinos e a própria carreira de Ward. A mãe de ambos, Alice Ward (Melissa Leo), também não ajuda muito, pois é uma empresária relapsa e inexperiente. As coisas mudam um pouco quando Ward começa a namorar Charlene Fleming (Amy Adams), pois ela o incentiva a treinar sem o irmão e a arrumar outro empresário. O detalhe é que isso atrai a fúria da família do lutador.
Aliás, as pessoas de Lowell, a cidade onde se passa a história, são um capítulo a parte – especialmente as sete filhas de Alice. Praticamente ninguém se salva da caipiragem extrema! Desde os cabelos até a menor das atitudes, passando pelo vocabulário, tudo demonstra o que é ser um caipira legítimo nos Estados Unidos. É complicado, mas o filme procura não ofender ou caricaturar essa gente, apenas mostrar quem eles são e suas motivações para agir daquela maneira. De qualquer forma, é hilária a cena em que mãe e filhas entram todas em um mesmo carro para ir tirar satisfação com a personagem de Amy Adams.
Outra característica marcante do filme é a estética usada nas cenas de boxe. Ao contrário do que normalmente se vê em filmes como Raging Bull ou até mesmo Million Dollar Baby, a câmera não está dentro do ringue. Tudo é feito para parecer uma transmissão televisiva, inclusive com iluminação estourada e qualidade baixa de imagem. É um pouco estranho ouvir o que os atores falam quando a imagem é obviamente um zoom e eu me senti constantemente incomodada por ver menos a luta do que gostaria, mas mesmo assim as cenas de boxe ainda empolgam. Não deixa de ser um diferencial, embora eu questione um pouco a eficiência disso. Vale ressaltar que fugir dos clichês aqui não significa se livrar de todos. O recurso do falso documentário, por exemplo, tem uma razão bem lógica para ser usado e faz sentido durante o filme, mas já cansou um pouco.
De qualquer forma, o filme empolga e conta sua história com competência. Mark Wahlberg é um protagonista um pouco apagado, algo que é compensado pelos excelentes coadjuvantes. Amy Adams e Melissa Leo estão, sem dúvida, ótimas, mas o filme é de Christian Bale. A personalidade marcante de seu personagem e o novo uso de seu característico “efeito sanfona” impressionam. Ele domina os acontecimentos e direciona a vida de todos ao seu redor sendo, em muitos momentos, mais relevante que o próprio protagonista. Antes que você perceba, as encrencas de Dicky Eklund podem estar emocionando mais que as lutas de Micky Ward.
A propósito, quando The Fighter acaba, você pode ver um pouco dos dois irmãos e como eles são na realidade. Dicky Eklund é reconhecido instantaneamente, afinal, você já viu aquele modo de falar e de gesticular quando Christian Bale incorporou o papel. Se ele ganhar o Oscar, será merecido – e aposto que haverá festa na casa do “Orgulho de Lowell”.
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