Divagações: The Green Hornet

Quando você pensa em um vigilante mascarado, com pinta de detetive, que em sua vida pública é um riquinho mimado, mas que tem um carro cheio...

Quando você pensa em um vigilante mascarado, com pinta de detetive, que em sua vida pública é um riquinho mimado, mas que tem um carro cheio de apetrechos bélicos e tecnológicos. Em quem você primeiro pensa? Batman, é claro! O homem-morcego não só é o símbolo maior do vigilantismo, como referencial para qualquer filme de heróis com um approach mais realista, afinal o recente The Dark Knight, pode ser considerado o exemplo mais bem sucedido de como uma historia de super-heróis fantasiados pode coexistir com a dura realidade em que vivemos. Assim, não é surpresa que poucas pessoas conheçam o Green Hornet. Apesar de ter um relativo sucesso no passado, inclusive com uma série de TV contando com o aclamado Bruce Lee como Kato, o personagem nunca emplacou como um herói de primeira categoria. Então, não sei então o que gerou essa ideia de levar a história para este novo público? Sinceramente, não quero acreditar que Hollywood está tão carente de ideias novas, o que teremos em seguida: um novo filme do Flash Gordon?

Bem, não é que eu não vá com a cara do herói, muito pelo contrário. Apesar de querer ver o filme, tinha certo receio do que pareciam estar fazendo com o personagem. No final das contas, o que vi em The Green Hornet foi exatamente o que mais temia... Mas não é que não foi tão ruim assim?

Mesmo que a história seja extremamente batida para os padrões atuais, a mitologia do vigilante é muito parecida com a de sua encarnação original. Britt Reid (Seth Rogen) é um ricaço irresponsável e que não dá a mínima para nada. Depois da repentina morte de seu pai, um pilar da moralidade na corrupta Los Angeles, Reid herda seu grande império das comunicações, assim como um dos seus mais prezados funcionários o mecânico Kato (Jay Chou), que se mostra um grande lutador, engenheiro, motorista e, basicamente, toda a parte útil da dupla. Juntos, os dois se comprometem a lutar contra o mal que assola a cidade, com a diferença que será pelo lado de dentro, se passando por grandes criminosos para alcançar mais facilmente o grande chefe do crime de Los Angeles, o complexado Chudnofsky (Christoph Waltz).

Ao contrário da sua antiga versão, o protagonista não é um grande detetive e a parte pensante da dupla. Seth Rogen não consegue se distanciar da sua veia cômica e transforma seu personagem em uma piada ambulante. Britt Reid passa a história toda como um sujeito abobalhado e inconsequente, praticamente um peso morto para o bem-intencionado Kato. Este sim é a estrela do filme, responsável por praticamente tudo que envolve a figura do herói. É engraçado perceber que o coadjuvante se tornou mais relevante e que o protagonista não passa de um alivio cômico para a história. Mas, convenhamos, é difícil levar a sério um sujeito de cabelos encaracolados cuja voz muitas vezes remete ao saudoso patriarca dos Flintstones.

Meu receio é que algumas destas escolhas tenham sido culpa de Stephen Chow, que chegou a ser escalado como diretor do filme e também faria o papel de Kato. Chow não é muito conhecido por sua seriedade e boa parte do tom de paródia pode ter sido impresso por ele. Inclusive, talvez a grande carga dada ao Kato seja até mesmo uma forma de autopromoção. Ainda bem que a direção foi para as mãos de Michel Gondry.

Falando deste jeito até parece que a história virou uma grande palhaçada e que o filme não tem nada que se salve, mas surpreendentemente ele se sai bem como uma comédia de ação. Rogen e Chou têm uma boa dinâmica, apesar do personagem do primeiro ficar um pouco cansativo no decorrer do filme. Waltz é uma figura marcante em tela e já começa no filme nos surpreendendo. O interesse romântico dos personagens, a jornalista Lenore Case (Cameron Diaz), não convence muito, apesar de ter sua dose de importância na trama.

Visualmente, o filme é bastante empolgante e digo isto como quem teve a oportunidade de ver o filme em 3D e em uma sala do IMAX. Mesmo com a ausência sentida dos efeitos projetados para fora da tela, o 3D de profundidade é um dos trabalhos mais competentes dentre os filmes recentes que assisti. O ritmo frenético e muitas vezes de videoclipe ajuda a dar o tom da história, que é permeada por referências aos quadrinhos e à série de televisão.

Infelizmente para alguns, The Green Hornet é uma péssima adaptação do personagem clássico e isto é algo muito difícil de negar. Porém, isso não quer dizer que seja um péssimo filme. Se você não se empolga com tiroteios e explosões a torto e a direito, temperados com uma dose considerável de humor não tão refinado assim, com certeza está vendo o filme errado e talvez encontre em The Spirit uma adaptação mais fidedigna dos detective comics dessa era. Mas, se você estiver disposto a desligar o seu cérebro por umas duas horas, e curtir o absurdo caricato que The Green Hornet tem a oferecer, pode ir aos cinemas sem medo, mesmo que eu não possa garantir que seja um filme de que todos podem gostar.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

RELACIONADOS

0 recados